A nova poesia moçambicana
Na sua globalidade
as literaturas africanas em língua portuguesa, são, de facto, novas, pois, não vão
muito além se século de existência. No caso de Moçambique, apesar de algumas
manifestações embrionárias e isoladas, nos finais do passado(campos oliveira
por exemplo) e princípios deste(João Albasine e Rui de Noronha) só a partir da década de 40 é que a literatura
moçambicana ganha uma dinâmica sistemática e consequente, Rui de Noronha,
apesar de um lirismo autocompassivo que quase patológico a sua única obra é uma
edição póstuma significativamente intitulada sonetos, de 1946, cuja
autenticidade tem sido posta causa assume-se como um dos mais reputados
percursores.
Porem será com a
geração da iliteraria período de artes, ciências, letras, publicado na capital
de Moçambique entre 1941e 1955, que à literatura moçambicana ganha uma
sistematicidade e um ritmo decisivo. Dessa geração fazem parte entre outros,
Fonseca Amaral, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Aníbal Aleluia, Orlando
Mendes, Virgílio de Lemon, Rui Nogar Kalungano e Rui Knopfli.
A geração de iliteraria-
é um movimento espontâneo com tendências díspares. há uma relativa convergência
na afirmação de uma literatura identificada com Moçambique com as suas vivências
e problemáticas
-dentro do que ira
marcar o perfil da literatura moçambicana-entretanto dominada pela poesia
define se pelo menos duas linhas estéticas fundamentais:
·
Uma
que exprime um lirismo individual, que faz da poesia espaço de afirmação da
poesia, eximindo se de comprometimentos políticos ou ideológicos, exprimindo
mesmo assim de forma oblíqua, mas não menos profunda, preocupações existências
aos mais variados níveis, aqui a figura emblemática é inquestionável, Rui
Knopfli.
·
A outra inserida num projecto e num desiderato
mais amplo de afirmação colectiva, em que se reivindicam raízes culturais
negro-africanas, instituindo uma poesia programática, muitas vezes dotada de
projecto e denuncia, em que se observa uma crescente contaminação político-ideológica.
A década 80 período
em que se define aquilo que chamamos de nova poesia moçambicana é marcada pela
febre de ruptura ou da ortodoxia do novo, como diria Adorno.
Importa desde já,
reter alguns marcos que vão condicionar decisivamente os contornos internos e
exteriores do fenómeno literário em Moçambique.
Entre 1980 e 1981,
o instituto nacional do livro e do disco (Moçambique) e as edições 70
(Portugal) publicam doze títulos na colecção Autores moçambicanos;
1982-constituicao
da associação de escritores moçambicanos, (AEMO) o que leva a uma maior
dinamização da actividade editorial com catorze títulos publicados entre 1982 e
1985, aumento das tertúlias dos saraus de poesia da divulgação literária.
Prosa Moçambicana ou falas resgatadas
A prosa
moçambicana é considerada um elemento vital, e prodigioso na literatura
lusófona, destacam se primeiramente: Mia Couto, José Craveirinha, Paulina
Chiziane e outros.
A pergunta `como
fala os jovens escritores` `levantam se a partida, algumas hesitações de
carácter pragmático, porem abstraindo nos momentaneamente do rigor de tais
formulações, consideramos pelo menos duas possibilidades:
·
A
primeira seriamos tentado a fazer uma análise numa prespectiva sociológica dos
fenómenos linguísticos protagonizados pelos jovens escritores em diferentes
comunicações de comunidade oral, embora Saussure defenda que não há nada de
colectividade na fala, as suas manifestações são individuas momentâneas;
·
A
segunda Possibilidade remeter-nos-ia para Assunção da fala dos escritores como
concretização da sua fala partícula que tem como pressuposto a ideia de que a
literatura é uma fala que precisamente não se deixa submeter à prova da
verdade.
Território
tradicional dominado pela lírica, a literatura moçambicana, vem assistindo nos
últimos tempos, a emergência de novas ficcionistas, embora em número ainda incipiente
se por um lado nos confrontamos com textos que provocam algum cepticismo no
inverso de recepção por outro, existem obras que tem o seu valor reconhecido
quer internamente, quer fora do país.
Porem, analisadas
sua globalidade essas produções concentram se dentro si, a vitalidade de uma
criatividade a expressividade individual em que os contornos da problemática da
língua literária se tornam mais pronunciados.
É aí que de
imediato emerge uma questão no mínimo incontornável: o facto de o escritor
africano em geral ter de construir a sua língua literária axialmente partir de
uma língua natural alienegica. Num extremar de posições, em relação a questão
da língua literária, Joseph Hanse (1996:74) da universidade de Louvain, defende
que a língua (por vincular valores e princípios) é um factor decisivo na
afirmação de determinada literatura. Esse autor manifesta uma absoluta
relutância em aceitar que uma mesma língua possa agregar literaturas distintas,
isto é, tomando como exemplo a língua portuguesa, teríamos a literatura
moçambicana, angolana, cabo-verdiana, brasileira, fazendo parte da primeira.
Como sabemos, esta
é a ideia que não vinga, pois Hanse não tem em conta que a língua é um fenómeno
dinâmico em permanente transformação, adquirindo características próprias em
função do contexto social, geográfico e cultural. Por outro lado, a criação
literária submete a língua natural a tensões particulares que vão fazer com que
ela adquira uma configuração semiótica especificam e destinto.
No caso de Moçambique
a língua literária resulta da interacção com uma realidade polissistemática e
policodificada, neste particular da convivência com varias línguas naturais.
§
O
português padrão-que se identifica com a norma europeia (actualizado pelos
narradores das obras) por exemplo de Ungulane Baka Kossa, Aldino Muianga,
Suleiman Cassamo, um certo Mia Couto-este ultimo linguisticamente transgressivo
e versátil.
§
A
variante é com português padrão submetido a transgressões reconfigurativas,
voluntárias e involuntárias, esta é falada normalmente pelas as personagens,
sendo aliais, visível o distanciamento linguístico entre elas e os narradores.
Ex.: e deitaram se
afastados, ela com suavidade, interrompeu lhe o adormecer
-mas marido…
Deve ser que estas.
Você é muito velho.
Ex.: há três anos
que te aguardava, manicusse (…)
Por isso deve
regressar para os seus, manicusse.
(In Marcelo
Panguana. A balada do amor ao vento. P.19)
Ex.: lembras-te?
foi na estacão, chegaste, o comboio preste a partir
-vai ir não é.
Porque não fica? Pediste quer estudar até onde?
(In Suleiman Cassamo.
O regresso dos mortos, P.34)
(os Sublinhados são
nossos)
As línguas bantu
caso de ronga e do changana, cuja utilização se verifica em frase inteiras ou
simplesmente através de expressões ou vocabulários miscigenados com a língua
portuguesa, obtendo dai efeitos curiosos aqui não estão alheios desígnios estetizantes
e expressões. No fundo afirmação de uma soberania linguística literária.
Ex.: ao volante de
um tchova-xita-duma (carroça à atracão humana)
(In Pedro Chissano,
Liberdade contos moçambicanos, P.1116)
Ex.: Deve ser que
estas. Você é muito velho;
(Mia Couto, a
fogueira, vozes anoitecidas)
Ex.: Viu na bicha
(fila), gente moluene (marginal).Eh Mufana (rapaz).
(In Isaac Zitha, os
moluenes P.9).
Enfim trata se de
uma literatura em busca ainda de si própria e que encontra, nas falas que
produz algo profundamente inspirador e que se institui como aspecto distintivo,
mas ao mesmo tempo funciona como traço unificador.
0 comentários:
Enviar um comentário