quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A nova poesia moçambicana

 

A nova poesia moçambicana

Na sua globalidade as literaturas africanas em língua portuguesa, são, de facto, novas, pois, não vão muito além se século de existência. No caso de Moçambique, apesar de algumas manifestações embrionárias e isoladas, nos finais do passado(campos oliveira por exemplo) e princípios deste(João Albasine e Rui de Noronha) só a  partir da década de 40 é que a literatura moçambicana ganha uma dinâmica sistemática e consequente, Rui de Noronha, apesar de um lirismo autocompassivo que quase patológico a sua única obra é uma edição póstuma significativamente intitulada sonetos, de 1946, cuja autenticidade tem sido posta causa assume-se como um dos mais reputados percursores.

Porem será com a geração da iliteraria período de artes, ciências, letras, publicado na capital de Moçambique entre 1941e 1955, que à literatura moçambicana ganha uma sistematicidade e um ritmo decisivo. Dessa geração fazem parte entre outros, Fonseca Amaral, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Aníbal Aleluia, Orlando Mendes, Virgílio de Lemon, Rui Nogar Kalungano e Rui Knopfli.

A geração de iliteraria- é um movimento espontâneo com tendências díspares. há uma relativa convergência na afirmação de uma literatura identificada com Moçambique com as suas vivências e problemáticas

-dentro do que ira marcar o perfil da literatura moçambicana-entretanto dominada pela poesia define se pelo menos duas linhas estéticas fundamentais:

·        Uma que exprime um lirismo individual, que faz da poesia espaço de afirmação da poesia, eximindo se de comprometimentos políticos ou ideológicos, exprimindo mesmo assim de forma oblíqua, mas não menos profunda, preocupações existências aos mais variados níveis, aqui a figura emblemática é inquestionável, Rui Knopfli.

·         A outra inserida num projecto e num desiderato mais amplo de afirmação colectiva, em que se reivindicam raízes culturais negro-africanas, instituindo uma poesia programática, muitas vezes dotada de projecto e denuncia, em que se observa uma crescente contaminação político-ideológica.

A década 80 período em que se define aquilo que chamamos de nova poesia moçambicana é marcada pela febre de ruptura ou da ortodoxia do novo, como diria Adorno.

Importa desde já, reter alguns marcos que vão condicionar decisivamente os contornos internos e exteriores do fenómeno literário em Moçambique.

Entre 1980 e 1981, o instituto nacional do livro e do disco (Moçambique) e as edições 70 (Portugal) publicam doze títulos na colecção Autores moçambicanos;

1982-constituicao da associação de escritores moçambicanos, (AEMO) o que leva a uma maior dinamização da actividade editorial com catorze títulos publicados entre 1982 e 1985, aumento das tertúlias dos saraus de poesia da divulgação literária.

Prosa Moçambicana ou falas resgatadas

A prosa moçambicana é considerada um elemento vital, e prodigioso na literatura lusófona, destacam se primeiramente: Mia Couto, José Craveirinha, Paulina Chiziane e outros.

A pergunta `como fala os jovens escritores` `levantam se a partida, algumas hesitações de carácter pragmático, porem abstraindo nos momentaneamente do rigor de tais formulações, consideramos pelo menos duas possibilidades:

·        A primeira seriamos tentado a fazer uma análise numa prespectiva sociológica dos fenómenos linguísticos protagonizados pelos jovens escritores em diferentes comunicações de comunidade oral, embora Saussure defenda que não há nada de colectividade na fala, as suas manifestações são individuas momentâneas;

·        A segunda Possibilidade remeter-nos-ia para Assunção da fala dos escritores como concretização da sua fala partícula que tem como pressuposto a ideia de que a literatura é uma fala que precisamente não se deixa submeter à prova da verdade.

Território tradicional dominado pela lírica, a literatura moçambicana, vem assistindo nos últimos tempos, a emergência de novas ficcionistas, embora em número ainda incipiente se por um lado nos confrontamos com textos que provocam algum cepticismo no inverso de recepção por outro, existem obras que tem o seu valor reconhecido quer internamente, quer fora do país.

Porem, analisadas sua globalidade essas produções concentram se dentro si, a vitalidade de uma criatividade a expressividade individual em que os contornos da problemática da língua literária se tornam mais pronunciados.

É aí que de imediato emerge uma questão no mínimo incontornável: o facto de o escritor africano em geral ter de construir a sua língua literária axialmente partir de uma língua natural alienegica. Num extremar de posições, em relação a questão da língua literária, Joseph Hanse (1996:74) da universidade de Louvain, defende que a língua (por vincular valores e princípios) é um factor decisivo na afirmação de determinada literatura. Esse autor manifesta uma absoluta relutância em aceitar que uma mesma língua possa agregar literaturas distintas, isto é, tomando como exemplo a língua portuguesa, teríamos a literatura moçambicana, angolana, cabo-verdiana, brasileira, fazendo parte da primeira.

Como sabemos, esta é a ideia que não vinga, pois Hanse não tem em conta que a língua é um fenómeno dinâmico em permanente transformação, adquirindo características próprias em função do contexto social, geográfico e cultural. Por outro lado, a criação literária submete a língua natural a tensões particulares que vão fazer com que ela adquira uma configuração semiótica especificam e destinto.

No caso de Moçambique a língua literária resulta da interacção com uma realidade polissistemática e policodificada, neste particular da convivência com varias línguas naturais.

§  O português padrão-que se identifica com a norma europeia (actualizado pelos narradores das obras) por exemplo de Ungulane Baka Kossa, Aldino Muianga, Suleiman Cassamo, um certo Mia Couto-este ultimo linguisticamente transgressivo e versátil.

§  A variante é com português padrão submetido a transgressões reconfigurativas, voluntárias e involuntárias, esta é falada normalmente pelas as personagens, sendo aliais, visível o distanciamento linguístico entre elas e os narradores.

Ex.: e deitaram se afastados, ela com suavidade, interrompeu lhe o adormecer

-mas marido…

Deve ser que estas. Você é muito velho.

Ex.: há três anos que te aguardava, manicusse (…)

Por isso deve regressar para os seus, manicusse.

(In Marcelo Panguana. A balada do amor ao vento. P.19)

Ex.: lembras-te? foi na estacão, chegaste, o comboio preste a partir

-vai ir não é. Porque não fica? Pediste quer estudar até onde?

(In Suleiman Cassamo. O regresso dos mortos, P.34)

(os Sublinhados são nossos)

As línguas bantu caso de ronga e do changana, cuja utilização se verifica em frase inteiras ou simplesmente através de expressões ou vocabulários miscigenados com a língua portuguesa, obtendo dai efeitos curiosos aqui não estão alheios desígnios estetizantes e expressões. No fundo afirmação de uma soberania linguística literária.

Ex.: ao volante de um tchova-xita-duma (carroça à atracão humana)

(In Pedro Chissano, Liberdade contos moçambicanos, P.1116)

Ex.: Deve ser que estas. Você é muito velho;

(Mia Couto, a fogueira, vozes anoitecidas)

Ex.: Viu na bicha (fila), gente moluene (marginal).Eh Mufana (rapaz).

(In Isaac Zitha, os moluenes P.9).

Enfim trata se de uma literatura em busca ainda de si própria e que encontra, nas falas que produz algo profundamente inspirador e que se institui como aspecto distintivo, mas ao mesmo tempo funciona como traço unificador.

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