Ficha leitura
O IMPERIALISMO FASE SUPERIOR DO CAPITALISMO
Referências Bibliográficas:
LENINI,Vladimir Ilitch. Imperialismo
fase Superior do Capitalismo, parns Editora 5aed. 1917.
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Breve Preâmbulo da obra
Este livrinho, como se disse no prefácio da
edição russa, foi escrito em 1916 tendo em conta a censura tzarista.
Actualmente é-me impossível refazer todo o texto, trabalho que, de resto,
talvez fosse inútil, visto o principal objectivo do livro, hoje como ontem,
consistir em mostrar, com a ajuda dos dados gerais, irrefutáveis, da
estatística burguesa e das declarações dos homens de ciência burgueses de todos
os países, um quadro de conjunto da economia mundial capitalista nas suas
relações internacionais, nos princípios do século XX, em vésperas da primeira
guerra imperialista mundial.
Até certo ponto será mesmo útil a muitos
comunistas dos países capitalistas avançados persuadirem-se, com o exemplo
deste livrinho, legal do ponto de vista da censura tzarista, de que é possível
- e necessário - aproveitar mesmo os pequenos vestígios de legalidade que ainda
lhes restam, por exemplo na América actual ou em França, depois das recentes
prisões de quase todos os comunistas, para demonstrar toda a falsidade das concepções
sociais-pacifistas e das suas esperanças numa - democracia mundial. Tentarei
dar neste prefácio os complementos mais indispensáveis a este livro que em
tempos passou pela censura.
A
guerra de 1914-1918 foi, de ambos os lados, uma guerra imperialista (isto é,
uma guerra de conquista, de pilhagem e de rapina), uma guerra pela partilha do
mundo, pela divisão e redistribuição das colónias, das, esferas de influência,
do capital financeiro, etc.
É
que a prova do verdadeiro carácter social ou, melhor dizendo, do verdadeiro carácter
de classe de uma guerra não se encontrará, naturalmente, na sua história
diplomática, mas na
Análise
da situação objectiva das classes dirigentes em todas as potências
beligerantes. Para deflectir essa situação objectiva há que colher não exemplos
e dados isolados (dada a infinita complexidade dos fenómenos da vida social,
podem-se encontrar sempre os exemplos ou dados isolados que se queira
susceptíveis de confirmar qualquer tese), mas sim, obrigatoriamente, todo o
conjunto dos dados sobre os fundamentos da vida económica de todas as potências
beligerantes e do mundo inteiro. (p.581)
A
paz de Brest-Litovsk, ditada pela Alemanha monárquica, e depois a paz, muito
mais brutal e infame, de Versalhes, ditada pelas repúblicas “democráticas” da
América e da França e pela “livre” Inglaterra, prestaram um serviço
extremamente útil à humanidade, desmascarando os coolies da pena a soldo do
imperialismo do mesmo modo que os filisteus
Reaccionários
que, embora dizendo-se pacifistas e socialistas, entoavam louvores ao
“wilsonismo”e procuravam mostrarem que a paz e as reformas são possíveis sob o
imperialismo.
Em
Kautsky e em toda gente do seu género, tais concepções são precisamente a
abjuração completa dos fundamentos revolucionário do marxismo que esse autor
defendeu durante dezenas de anos, sobretudo, diga-se de passagem, em luta
contra o oportunismo socialista (de Bernstein, Millerand, Hyndman, Gompers,
etc.). Por isso não é obra do acaso que os “kautskistas” de todo o mundo se
tenham unido hoje, no terreno da política prática, aos oportunistas extremos
(através da II Internacional, ou Internacional. amarelo e aos governos
burgueses (através dos governos de coligação burgueses com participação de
socialistas).
O movimento proletário revolucionário em geral e o movimento
comunista em particular, que crescem em todo o mundo, não podem dispensar a
análise e o desmascaramento dos erros teóricos do “kautskismo”. Isto é tanto
mais necessário quanto o pacifismo e a “democracia” em geral - que não têm as
mínimas pretensões de marxismo, mas que, exactamente como Kautsky e C.ª,
dissimulam a profundidade das contradições do imperialismo e a inelutabilidade
da crise revolucionária que este engendra - são correntes que ainda se
encontram extraordinariamente espalhadas em todo o mundo. A luta contra tais
tendências é obrigatória para o partido do proletariado, que deve arrancar à
burguesia os pequenos proprietários que ela engana e os milhões de
trabalhadores cujas condições de vida são mais ou menos pequeno-burguesas.
A história da concentração do monopólio
Há meio século, quando Marx escreveu O
Capital, a livre concorrência era, para a maior parte dos economistas, uma “lei
natural”. A ciência oficial procurou aniquilar, por meio da conspiração do
silêncio, a obra de Marx, que tinha demonstrado, com uma análise teórica e
histórica do capitalismo, que a livre concorrência gera a concentração da
produção, e que a referida concentração, num certo grau do seu desenvolvimento,
conduz ao monopólio. Agora o monopólio é um fato. Os economistas publicam
montanhas de livros em que descrevem as diferentes manifestações do monopólio e
continuam a declarar em coro que o marxismo foi refutado. Mas os fatos são
teimosos - como afirma o provérbio inglês - e de bom ou mau grado há que tê-los
em conta. Os fatos demonstram que as diferenças entre os diversos países
capitalistas, por exemplo no que se refere ao proteccionismo ou ao livre-câmbio,
trazem consigo apenas diferenças não essenciais quanto à forma dos monopólios
ou ao momento do seu aparecimento, mas que o aparecimento do monopólio devido à
concentração da produção é uma lei geral e fundamental da presente fase de
desenvolvimento do capitalismo. No que se refere à Europa, pode-se fixar com
bastante exactidão o momento em que o novo capitalismo veio substituir
definitivamente o velho: em
Princípios do século XX. Num dos trabalhos de
compilação mais recentes sobre a história da “formação dos monopólios” lemos:
“Podem-se
citar alguns exemplos de monopólios capitalistas da época anterior a 1860;
podem-se descobrir aí os germes das formas que são tão correntes na actualidade;
mas tudo isso constitui indiscutivelmente a época pré-histórica dos cartéis. O
verdadeiro começo dos monopólios contemporâneos encontramo-lo, no máximo, na
década de 1860. O primeiro grande período de desenvolvimento dos monopólios
começa com a depressão internacional da indústria na década de 1870 e
prolonga-se até princípios da última década do século.” “Se examinarmos a
questão no que se refere à Europa, a livre concorrência alcança o ponto
culminante de desenvolvimento nos anos de 60 a 70. Por essa altura, a
Inglaterra acabava de erguer a sua organização capitalista do velho estilo. Na
Alemanha, esta organização iniciava uma luta decidida contra a indústria
artesanal e doméstica e começava a criar as suas próprias formas de
existência.”
“Inicia-se
uma transformação profunda com o craque de 1873, ou, mais exactamente, com a
depressão que se lhe seguiu e que - com uma pausa quase imperceptível em
princípios da década de 1880 e com um ascenso extraordinariamente vigoroso, mas
breve, por volta de 1889 - abarca vinte e dois anos da história económica da
Europa.” “Durante o breve período de ascenso de 1889 e 1890 foram utilizados em
grande escala os cartéis para aproveitar a conjuntura. Uma política irreflectida
elevava os preços ainda com maior rapidez e em maiores proporções do que teria
acontecido sem os cartéis, e quase todos esses cartéis pereceram ingloriamente,
enterrados ‘na fossa do craque’. Decorrem outros cinco anos de maus negócios e
preços baixos, mas já não reinava na indústria o estado de espírito anterior: a
depressão não era já considerada uma coisa natural, mas, simplesmente, uma
pausa antes de uma nova conjuntura favorável. ( p.586 )
O papel dos novos bancos
A
operação fundamental e inicial que os bancos realizam é a de intermediários nos
pagamentos. É assim que eles convertem o capital-dinheiro inativo em capital
ativo, isto é, em capital que rende lucro; reúnem toda a espécie de rendimentos
em dinheiro e colocam-nos à disposição da classe capitalista.
À
medida que vão aumentando as operações bancárias e se concentram num número
reduzido de estabelecimentos, os bancos convertem-se, de modestos
intermediários que eram antes, em monopolistas onipotentes, que dispõem de
quase todo o capital-dinheiro do conjunto dos capitalistas e pequenos patrões,
bem como da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias-primas
de um ou de muitos países. Esta transformação dos numerosos modestos
intermediários num punhado de monopolistas constitui um dos processos
fundamentais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista, e por
isso devemos deter-nos, em primeiro lugar, na concentração bancária.
Se
os lucros do capital financeiro são desmedidos durante os períodos de ascenso
industrial, durante os períodos de depressão arruinam-se as pequenas empresas e
as empresas pouco fortes, enquanto os grandes bancos "participam" na
aquisição das mesmas a baixo preço, ou no seu lucrativo "saneamento"
e " reorganização". Ao efectuar-se o "saneamento" das
empresas deficitárias, "o capital em acções sofre uma baixa, isto é, os
lucros são distribuídos sobre um capital menor, e calculam-se depois com base
nesse capital. Ou, se a rendibilidade fica reduzida a zero, incorpora-se novo
capital que, ao unir-se com o capital velho, menos lucrativo, produz já um
lucro suficiente. Convém dizer - acrescenta Hilferding - que todos esses
saneamentos e reorganizações têm uma dupla importância para os bancos: primeiro
como operação lucrativa, e segundo como ocasião propícia para colocar sob a sua
dependência essas sociedades necessitadas".
Eis um exemplo: o da
sociedade anónima mineira Union, de Dortmund, fundada em 1872. Foi emitido um
capital em acções de cerca de 40 milhões de marcos, e, quando no primeiro ano
se recebeu um dividendo de 12%, o curso elevou-se até 170%. O capital
financeiro
ficou com a nata, embolsando a bagatela de uns 28 milhões
de marcos. O papel principal na fundação da referida sociedade foi desempenhado
por esse mesmo grande banco alemão, a Sociedade de Desconto, que, sem
contratempos, alcançou um capital de 300 milhões. Os dividendos da Umon
desceram depois até desaparecerem. Os acionistas tiveram de aceder a liquidar
uma parte do capital, isto é, a sacrificar uma parte para não perderem tudo.
Como resultado de uma série de "saneamentos", desapareceram dos
livros da sociedade Union, no decurso de trinta anos, mais de 73 milhões de
marcos. "Atualmente, os acionistas fundadores dessa sociedade têm nas suas
mãos apenas 5 % do valor nominal das suas ações"e em cada novo
"saneamento" os bancos continuaram a "ganhar alguma coisa".
Uma das operações
particularmente lucrativas do capital financeiro é também a especulação com
terrenos situados nos subúrbios das grandes cidades que crescem rapidamente. O
monopólio dos bancos funde-se neste caso com o monopólio da renda da terra e
com o monopólio das vias de comunicação, pois o aumento dos preços de terrenos,
a possibilidade de os vender vantajosamente por parcelas, etc., depende
principalmente das boas vias de comunicação com a parte central da cidade, as
quais se encontram nas mãos de grandes companhias, ligadas a esses mesmos
bancos mediante o sistema de participação e da distribuição dos cargos
diretivos. Resulta de tudo isso o que o autor alemão L. Eschwege, colaborador
da revista Die Bank, que estudou especialmente as operações de venda e hipoteca
de terrenos, qualifica de "pântano": a desenfreada especulação com os
terrenos dos subúrbios das cidades, as falências das empresas de construção,
como, por exemplo, a firma berlinense Boswau & Knauer, que tinha embolsado
uma quantia tão elevada como 100 milhões de marcos por intermédio do banco
"mais importante e respeitável", o Banco Alemão (Deutsche Bank), que,
naturalmente, atuava segundo o sistema de "participação", isto é, em
segredo, na sombra, e livrou-se da situação perdendo "apenas" 12
milhões de marcos; depois, a ruína dos pequenos patrões e dos operários, que
não recebem nem um centavo das fictícias empresas de construção; as negociatas
fraudulentas com a "honrada" polícia berlinense e com a administração
urbana para ganhar o controlo do serviço de informação sobre os terrenos e das
autorizações do município para construir, etc., etc.
Os "costumes
americanos", de que tão hipocritamente se lamentam os professores europeus
e os burgueses bem-intencionados, converteram-se, na época do capital
financeiro, em costumes de literalmente toda a cidade importante de qualquer
país. Em Berlim, em princípios de 1914, falava-se da fundação de um "trust
dos transportes", isto é, de uma "comunidade de interesses" das
três empresas berlinenses de transportes: os caminhos-de-ferro eléctricos
urbanos, a sociedade de carros eléctricos e a de autocarros. "Que este
propósito existe - diz a revista Die Bank - já o sabíamos desde que se tornou
do domínio público que a maioria das acções da sociedade de autocarros tinha
sido adquirida pelas outras duas sociedades de transportes... Podemos acreditar
inteiramente nos que visam esse objectivo quando afirmam que, mediante a
regulação uniforme dos transportes, têm a esperança de obter economias, de uma
parte das quais, no fim de contas, o público poderia beneficiar. Mas a questão
complica-se em virtude de, por detrás desse trust dos transportes em formação,
estarem os bancos, que, se quiserem, podem subordinar as vias de comunicação
que monopolizam aos interesses do seu tráfico de terrenos. Para nos
convencermos do bom fundamento desta suposição basta recordar que, ao ser
fundada a
sociedade dos caminhos-de-ferro, eléctricos urbanos, já se
encontravam ligados a ela os interesses do grande banco que patrocinou esse
empreendimento. Isto é: os interesses da referida empresa de transportes
entrelaçavam-se com os do tráfico de terrenos. O cerne da questão era que a
linha oriental da referida via-férrea devia passar por terrenos que mais tarde,
quando a construção da via-férrea já estava assegurada, o banco vendeu com
enorme lucro para si e para algumas pessoas que intervieram no negócio.
O monopólio, uma vez
que foi constituído e controla milhares de milhões, penetra de maneira inevitável
em todos os aspectos da vida social, independentemente do regime político e de
qualquer outra "particularidade". Nas publicações alemãs sobre
economia são habituais os elogios servis à honradez dos funcionários prussianos
e as alusões ao Panamá francês367 ou à venalidade política americana. Mas o
fato é que até as publicações burguesas consagradas aos assuntos bancários da
Alemanha se vêem constantemente obrigadas a sair dos limites das operações
puramente bancárias e a escrever, por exemplo, sobre a ,aspiração para entrar
nos bancos", a propósito dos casos, cada vez mais freqüentes, de
funcionários que passam para o serviço destes. "Que se pode dizer da
incorruptibilidade do funcionário do Estado cuja secreta aspiração consiste em
encontrar uma sinecura na Behrenstrasse?" (rua
de Berlim onde se encontra a sede do Banco Alemão). Alfred Lansburgh, diretor
da revista Die Bank, escreveu em 1909 um artigo intitulado "A Significação
Económica do Bizantinismo", a propósito, entre outras coisas, da viagem de
Guilherme II à Palestina e do "resultado directo dessa viagem, a
construção do caminho-de-ferro de Bagdad, essa fatal 'grande obra do espírito
empreendedor alemão', que é mais culpada do nosso 'cerco' do que todos os
nossos pecados políticos juntos" (por cerco entende-se a política de
Eduardo VII, que visava isolar a Alemanha e rodeá-la de uma aliança
imperialista anti-alemã). Eschwege, colaborador dessa mesma revista e referido
mais acima, escreveu em 1911 um artigo intitulado "A Plutocracia e os
Funcionários", no qual denunciava, por exemplo, o caso do funcionário
alemão Võlker, que era membro da comissão de cartéis e se distinguia pela sua
energia, mas pouco tempo depois ocupou um cargo lucrativo no cartel mais
importante, o sindicato do aço. Os casos desse género, que não são de modo
nenhum excepcionais, obrigaram esse mesmo escritor burguês a reconhecer que
"a liberdade económica garantida pela Constituição alemã se converteu, em
muitas esferas da vida económica, numa frase sem sentido" e que, com a
dominação a que chegou a plutocracia, "nem a liberdade política mais ampla
nos pode salvar de nos convertermos num povo de homens privados de
liberdade".
No
que se refere à Rússia, limitar-nos-emos a um só exemplo: há alguns anos, todos
os jornais deram a notícia de que Davídov, director do Departamento de Crédito,
abandonava o seu lugar nesse organismo do Estado para entrar ao serviço de um
banco importante, com um vencimento que, ao fim de alguns anos, deveria
representar, segundo o contrato, uma soma de mais de 1 milhão de rublos. O
Departamento de Crédito é uma instituição destinada a "unificar a actividade
de todos os estabelecimentos de crédito do Estado" e que fornece subsídios
aos bancos da capital no valor de 800 a 1.000 milhões de rublos.
É
próprio do capitalismo em geral separar a propriedade do capital da sua
aplicação à produção, separar o capital-dinheiro do industrial ou produtivo,
separar o rentier, que vive apenas dos rendimentos provenientes do
capital-dinheiro, do empresário e de todas as pessoas que participam directamente
na gestão do capital. O imperialismo, ou domínio do capital financeiro, é o
capitalismo no seu grau superior, em que essa separação adquire proporções
imensas. O predomínio do capital financeiro sobre todas as demais formas do
capital implica o predomínio do rentier e da oligarquia financeira, a situação
destacada de uns quantos Estados de "poder" financeiro em relação a
todos os restantes. O volume deste processo dão-no-lo a conhecer os dados
estatísticos das emissões de toda a espécie de valores.
No
exercício de 1907-1908, os depósitos de todas as sociedades anónimas bancárias
da Alemanha que possuíam um capital de mais de um milhão de marcos eram de
7.000 milhões de marcos; no exercício de 1912-1913 tinham subido para 9800
milhões. Um aumento de 40 % em cinco anos, com a particularidade que, desses
2.800 milhões de aumento, 2.750 milhões correspondiam a 57 bancos com um
capital de mais de 10 milhões de marcos Em fins de 1913, Schulze-Gaevernitz
calculava os depósitos dos 9 grandes bancos berlinenses em 5.100 milhões de
marcos para um total de cerca de 10.000 milhões. Tomando em consideração não só
os depósitos mas todo o capital bancário, esse mesmo autor escrevia: “Em fins
de 1909, os nove grandes bancos berlinenses, contando com os bancos a eles
ligados, controlavam 11.300 milhões de marcos, isto é, cerca de 83 % de todo o
capital bancário alemão. O Banco Alemão (Deutsche Bank), que controla, contando
com os bancos a ele ligados, cerca de 3.000 milhões de marcos, representa, ao
lado da administração prussiana dos caminhos-de-ferro do Estado, a acumulação
de capital mais considerável do Velho Mundo, com a particularidade de estar
altamente descentralizada.”(2) Sublinhamos
a indicação relativa aos bancos “ligados” porque se refere a uma das
características mais importantes da concentração capitalista moderna. Os
grandes estabelecimentos, particularmente os bancos, não só absorvem
diretamente os pequenos como os “incorporam”, subordinam, incluem-nos no “seu”
grupo, no seu “consórcio” - segundo o termo técnico - por meio da
“participação” no seu capital, da compra ou da troca de ações, do sistema de
créditos, etc., etc. O Prof. Liefmann consagrou todo um volumoso “trabalho” de
meio milhar de páginas à descrição das “sociedades de participação e
financiamento” contemporâneos, mas, infelizmente, acrescentando raciocínios “teóricos”,
de qualidade mais que inferior a um material em bruto, frequentemente mal
digerido. Ao que conduz este sistema de “participação” do ponto de vista da
concentração, mostra-o melhor do que qualquer outra a obra do Sr. Riesser,
“personalidade” do mundo das finanças, acerca dos grandes bancos alemães.
Todavia, antes de examinarmos os seus dados, exporemos um exemplo concreto do
sistema de “participação”.( p. 597-601)
O Capital Financeiro e a Oligarquia Financeira. "Uma parte cada vez maior do capital
industrial - escreve Hilferding - não pertence aos industriais que o utilizam.
Podem dispor do capital unicamente por intermédio do banco, que representa,
para eles, os proprietários desse capital. Por outro lado, o banco também se vê
obrigado a fixar na indústria uma parte cada vez maior do seu capital. Graças a
isto, converte-se, em proporções crescentes, em capitalista industrial. Este
capital bancário - por conseguinte capital sob a forma de dinheiro -, que por
esse processo se transforma de fato em capital industrial, é aquilo a que chamo
capital financeiro." "Capital financeiro é o capital que se encontra
à disposição dos bancos e que os industriais utilizam."
Esta
definição não é completa porque não indica um dos aspectos mais importantes: o
aumento da concentração da produção e do capital em grau tão elevado que
conduz, e tem conduzido, ao monopólio. Mas em toda a exposição de Hilferding em
geral, e em particular nos capítulos que precedem aquele de onde retiramos esta
definição, sublinha-se o papel dos monopólios capitalistas. (p.610)
Concentração
da produção; monopólios que resultam da mesma; fusão ou junção dos bancos com a
indústria: tal é a história do aparecimento do capital financeiro e daquilo que
este conceito encerra. "O dirigente controla a sociedade fundamental
(literalmente, a "sociedade-mãe"); esta, por sua vez, exerce o
domínio sobre as sociedades que dependem dela ("sociedades-filhas");
estas últimas, sobre as "sociedades-netas", etc. É possível, deste
modo, sem possuir um capital muito grande, dominar ramos gigantescos da
produção. Com efeito, se a posse de 50% do capital é sempre suficiente para
controlar uma sociedade anônima, basta que o dirigente possua apenas 1 milhão
para estar em condições de controlar 8 milhões do capital das
"sociedades-netas". E se este "entrelaçamento" vai ainda
mais longe, com 1 milhão podem-se controlar 16 milhões, 32 milhões, etc.
Com
efeito, a experiência demonstra que basta possuir 40% das acções para dirigir
os negócios de uma sociedade anónima, pois uma certa parte dos pequenos accionistas,
que se encontram dispersos, não tem na prática possibilidade alguma de assistir
às assembleias-gerais, etc. A "democratização", da posse das acções,
de que os sofistas burgueses e os pretensos "sociais-democratas"
oportunistas esperam (ou dizem que esperam) a "democratização do
capital", o aumento do papel e importância da pequena produção, etc., é na
realidade um dos meios de reforçar o poder da oligarquia financeira. Por isso,
entre outras coisas, nos países capitalistas mais adiantados ou mais velhos e
"experimentados", as leis autorizam a emissão de acções mais
pequenas. Na Alemanha, a lei não permite ações de menos de 1000 marcos, e os
magnatas financeiros do país lançam os olhos com inveja para a Inglaterra, onde
a lei consente acções até 1 libra esterlina (quer dizer, 20 marcos, ou cerca de
10 rublos). Siemens, um dos industriais e "reis financeiros" mais
poderosos da Alemanha, declarou em 7 de Junho de 1900, no Reichtag, que "a
acção de 1 libra esterlina é a base do imperialismo britânico". Este
negociante tem uma concepção consideravelmente mais profunda, mais
"marxista", do que é o imperialismo do que certo escritor indecoroso
que se considera fundador do marxismo russo e supõe que o imperialismo é um
defeito próprio de um povo determinado.
Mas
o "sistema de participação" não só serve para aumentar em proporções
gigantescas o poderio dos monopolistas, como, além disso, permite levar a cabo
impunemente toda a espécie de negócios escuros e sujos e roubar o público, pois
os dirigentes das "sociedades-mães", formalmente, segundo a lei, não
respondem pela "sociedade-filha", que é considerada
"independente" e através da qual se pode "fazer passar"
tudo. "A Sociedade Anônima de Aço para Molas, de Cassel, era considerada
há uns anos como uma das empresas mais lucrativas da Alemanha. Em consequência
da má administração, os dividendos desceram de 15 % para 0 %. Segundo se pôde
comprovar depois, a administração, sem informar os acionistas, tinha feito um
empréstimo de 6 milhões de marcos a uma das suas 'sociedades-filhas', a Hassia,
cujo capital nominal era apenas de algumas centenas de milhares de marcos. Esse
empréstimo, quase três vezes superior ao capital em acções da 'sociedade-mãe',
não figurava no balanço desta: juridicamente, tal silêncio estava perfeitamente
de acordo com a lei e pôde durar dois anos inteiros, pois não infringia nem um
único artigo da legislação comercial. O presidente do conselho de
administração, a quem nessa qualidade incumbia a responsabilidade de assinar os
balanços falsos, era e continua a ser presidente da Câmara de Comércio de
Cassei. Os accionistas só se inteiraram desse empréstimo à Hassia muito tempo
depois, quando se verificou que o mesmo tinha sido um erro... " (o autor
deveria ter posto esta palavra entre aspas)... "e quando as ações do 'aço
para molas', por aqueles que tinham conhecimento disto se começarem a desfazer
delas, diminuíram o seu valor em aproximadamente 100 % . (p.611-629)
O Parasitismo e a Decomposição do Capitalismo
Hilferding,
antigo “marxista”, actualmente companheiro de armas de Kautsky e um dos
principais representantes da política burguesa, reformista, no seio do Partido
Social-Democrata Independente da Alemanha358, deu neste ponto um passo atrás
relativamente ao inglês Hobson, pacifista e reformista declarado. A cisão
internacional de todo o movimento operário mostra-se agora com inteira nitidez
(II e III Internacionais). A luta armada e a guerra civil entre as duas
tendências é também um fato evidente: na Rússia, apoio a Koltchak e Deníkine
pelos mencheviques e pelos “socialistas-revolucionários” contra os
bolcheviques; na Alemanha, os partidários de Scheidemann, Noske e C.ª ao lado
da burguesia contra os spartakistas359; e o mesmo na Finlândia, na Polônia, na
Hungria, etc.
Encontra-se
precisamente no parasitismo e na decomposição do capitalismo, inerentes à sua
fase histórica superior, quer dizer, ao Imperialismo. Como demonstramos neste
livrinho, o capitalismo deu agora uma situação privilegiada a um punhado (menos
da décima parte da população da Terra, ou, calculando de um modo muito
“generoso” e muito acima, menos de um quinto) de países particularmente ricos e
poderosos que, com o simples “corte de cupões”, saqueiam todo o mundo. A
exportação de capitais dá rendimentos de oito a dez mil milhões de francos por
ano, de acordo com os preços de antes da guerra e segundo as estatísticas
burguesas de então. Naturalmente, agora são muito maiores.
É
evidente que tão gigantesco superlucro (visto ser obtido para além do lucro que
os capitalistas extraem aos operários do seu “próprio” país) permite subornar
os dirigentes operários e a camada superior da aristocracia operária. Os
capitalistas dos países “avançados”, subornam-nos efectivamente, e fazem-no de
mil e uma maneiras, diretadas e indiretadas, abertas e ocultas.
Essa
camada de operários aburguesados ou de “aristocracia operária”, inteiramente
pequenos burgueses pelo seu género de vida, pelos seus vencimentos e por toda a
sua concepção do mundo, constitui o principal apoio da II Internacional e, hoje
em dia, o principal apoio social (não militar) da burguesia. Porque são
verdadeiros agentes da burguesia no seio do movimento operário, lugar-tenentes
operários da classe dos capitalistas. (p.628-665)
do chauvinismo. Na guerra civil entre o
proletariado e a burguesia colocam-se inevitavelmente, em número considerável,
ao lado da burguesia, ao lado dos “versalheses” contra os “communards. Sem ter
compreendido as raízes económicas desse fenómeno, sem ter conseguido ver a sua
importância política e social, é impossível dar o menor passo para o
cumprimento das tarefas práticas do movimento comunista e da revolução social
que se a vizinha.
Comentários gerais: Na década de 1870 o total das emissões aparece elevado em todo o
mundo, particularmente pelos empréstimos, em relação com a guerra
franco-prussiana e com a Gründerzeit que se lhe seguiu na Alemanha. Em geral, o
aumento é relativamente lento, durante os três últimos decénios do século XIX,
e só no primeiro decénio do século XX atinge grandes proporções, quase
duplicando em dez anos. Os começos do século XX constituem pois uma época de
viragem, não só do ponto de vista do crescimento dos monopólios.
Dos dados observados pude entender, com que força se destacam os
quatro países capitalistas mais ricos, que dispõem aproximadamente de 100 a 150
mil milhões de francos em valores. Desses quatro, dois - Inglaterra e França
são os países capitalistas mais velhos e, como veremos, os mais ricos em colónias;
os outros dois - os Estados Unidos e a Alemanha são países capitalistas
avançados pela rapidez de desenvolvimento e pelo grau de difusão dos monopólios
capitalistas na produção. Os quatro juntos têm 479 mil milhões de francos, isto
é, cerca de 80 % do capital financeiro mundial. Quase todo o resto do mundo
exerce, de uma forma ou de outra, funções de devedor e tributário desses
países, banqueiros internacionais, desses quatro "pilares" do capital
financeiro mundial.