segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A comunicação

 Introdução

A comunicação é o processo pelo qual indivíduos trocam informações e atribuem significado às mensagens (Owens, 1990, referido em Cruz-Santos, 2002). De outro modo, comunicação é um processo que requer um emissor, que codifica ou formula a mensagem e, por outro lado, um receptor, que descodifica ou compreende a mensagem. Neste processo, cada um dos intervenientes deverá estar ciente das necessidades do parceiro de forma a assegurar que as mensagens sejam efectivamente significativas e compreendidas.

No entanto, há situações em que o emissor emite uma mensagem que o receptor, por sua vez, não consegue descodificá-la. Neste caso, pode se dizer que houve ou há uma dificuldade numa das partes, quer na parte do emissor ou do receptor, e assim sendo, diz-se que houve um problema na comunicação. Mas, tal como foi mencionado em epígrafe, o problema na comunicação pode ser devido a dificuldades do emissor ou do receptor, assim, fica a ideia de que há vários tipos de problemas de comunicação.

Portanto, o presente trabalho enquadra-se na cadeira de NEE (Necessidades Educativas Especiais), cadeira leccionada no curso de Ensino de Inglês, e, visa compreender a problemática da dificuldade de trabalhar na área de comunicação. Para a melhor compreensão dessa problemática, ira-se, em primeiro lugar, dar-se o conceito de dificuldades de comunicação, seguindo-se para a classificação, tipos e causas desses problemas e por fim os respectivos sinais de alerta. De salientar que, para a elaboração deste trabalho, recorreu-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, onde baseou-se principalmente no trabalho de Cruz-Santos, (2002), com o tema: Problemas de Comunicação em alunos com necessidades especiais: Um contributo para a sua compreensão.

1.      Conceito de Comunicacao

Antes de falar das dificuldades de trabalhar na área de comunicação, é crucial dar conceitos ou definições do termo “comunicação” para melhor compreender as dificuldades de trabalhar na área de comunicação.Segundo Sim-Sim (1998:21) citado por Pereira (2012) comunicar é um processo de troca da informação que envolve a codificação, a transmissão e a descodificação de uma mensagem entre dois ou mais intervenientes. E de acordo com o Dicionário de Língua Portuguesa (2006:247) Comunicação é o acto ou efeito de comunicar, de trocar informação através de meios e códigos diversos, verbais ou não verbais.

A dificuldade na área de comunicação significa distúrbio dos processos psicológicos básicos envolvidos no entendimento ou no uso da linguagem falada ou escrita que se pode manifestar em uma aptidão imperfeita para ouvir, falar, ler, escrever, etc. Aínda no mesmo ponto, a ASHA (Associationof Speech-Language-Hearing), as dificuldades de comunicação são as perturbações da fala e da linguagem (Heward 2000). Assim sendo, a comunicação poder ser classificada em Verbal e Não-Verbal.

ü  Verbal (oral e escrita), isto é, a comunicação verbal oral constitui comunicação de palavras faladas entre dois ou mais pessoas. A comunicação verbal escrita refere se a comunicação através da escrita (ex. cartazes, bilhetes, cartas);

ü  Comunicação não-verbal (ex. tom da voz, linguagem corporal – postura, gestos, expressões faciais); a comunicação através de símbolos e a linguagem gestual incluem se também na comunicação não – verbal, mais também a comunicação sobre forma de símbolos (ex. fotografias, desenhos, bandas desenhadas, sinais de trânsito, etc.).


1.1.Dificuldades de Fala

Para Cruz-Santos (2002), as dificuldades de fala podem ser consideradas como as dificuldades da voz, da articulação dos sons da fala e da fluência. Estas dificuldades, que são observadas na transmissão e utilização do sistema oral, definem-se do modo seguinte:

·         Perturbação da voz: É definida como uma ausência ou produção diferente da intensidade, do timbre, do tom, da ressonância e/ou da duração.

·         Perturbação da articulação: É definida como uma produção diferente dos sons da fala.

·         Perturbação da fluência: É definida como um ritmo anormal da expressão verbal, caracterizada por dificuldades no ritmo e na velocidade.


1.1.1.      Dificuldades na articulação

A perturbação na articulação é a dificuldade mais comum de todas as dificuldades da fala nas crianças (ASHA, 1999, em Cruz-Santos, 2002). A idade e cultura da criança, pode determinar na capacidade de articulação clara e correcta das palavras. Dentro das perturbações da articulação, encontram-se os tipos de erros articulatórios mais comuns que são os seguintes: a substituição (substituição de um som difícil por outro mais simples. Ex.: “O sapato é meu” por “O tapatoé meu”); a distorção (o som é produzido de uma forma invulgar ou há uma mudança da ordem dos sons. Ex.: “O crocodilo” por “Ocorcodilo”); omissão (omissão de um ou mais sons difíceis na palavra. Ex.: “O frigorifico” por “O fifico”); e assimilação (um som adicional é inserido na palavra. Ex.: “Tenho um cão pequenino” por “Tenho um cão piquininho”).

1.1.1.1.Causas dos problemas de articulação

As causas dos problemas da articulação podem ser orgânicas (causa física ou neurológica) ou funcionais (quando não são identificadas causas orgânicas).

Ascausas orgânicasenvolvem: A fenda palatina, uma dentição malformada e Tumores.

Por sua vez, as causas funcionaisestão relacionadas com as oportunidades dadas às crianças para a aprendizagem e com padrões de fala inapropriados, incluindo as oportunidades de desenvolver uma fala adequada e a ausência ou presença de modelos.

1.1.2.      Dificuldades na voz

Tal como já foi dito, esta perturbação pode ser definida como uma ausência ou produção diferente da intensidade, do timbre, do tom, da ressonância e/ou da duração. Para Havard (2000), esta perturbação pode ser vista em duas vertentes, a fonação e a ressonância. A fonação diz respeito à produção de sons realizada pelas cordas vocais, quando este processo não é realizado de forma natural, a voz torna-se abafada ou rouca. Por sua vez, as perturbações ao nível da ressonância determinam-se pela produção de demasiados sons através da passagem dor ar pelas vias respiratórias (hipernasal) ou o contrário, a existência de pouca ressonância (hiponasal).


1.1.2.1.Causas dos problemas da voz

Os problemas da voz podem resultar de várias razões das quais, destacam-se as seguintes:

·         O excesso do trabalho vocal;

·         Lesões na laringe devido a acidentes ou procedimentos médicos;

·         Malformações congénitas da laringe;

·         Nódulos ou tumores.

Os problemas originados por excesso de vocalização são os mais comuns e de fácil prevenção em crianças em idade escolar (ASHA, 1999 in Cruz-Santos, 2002).


1.1.3.      Problemas de fluência

Entende-se por fluência, como um padrão na velocidade e ritmo durante o acto de fala. Ao falarmos, às vezes repetimos sílabas ou palavras, “misturamos” alguns sons das palavras, falamos rapidamente ou preenchemos pausas nas frases com expressões tais como “hmm”, “uh” ou “túsabes”. Esses acontecimentos podem estar relacionados a situações de estresse ou devido a pressão da situação. No entanto, quando isto é demasiado frequente e persistente até ao ponto de o falante não ser compreendido pelos outros ou quando o efeito da fala é tão intenso que se torna desconfortável, pode se estar diante de uma perturbação da fluência (Hallahan e Kauffman, 1997in Cruz-Santos, 2002).

Crianças entre os 3 e os 5 anos podem demonstrar disfluências durante o período de desenvolvimento da fala, sendo estas, consideradas como um percurso normal. A maioria das defluências que ocorrem durante este período começa a desaparecer aos 5 anos de idade. O tipo de disfluência mais frequente na infância é a gaguez, que afecta cerca de 2 por cento de crianças em idade escolar, manifestando-se mais em rapazes do que em raparigas (Smith e Luckasson, 1992, citados por Cruz-Santos, 2002).

Segundo Hardman, Drew e Egan (1996), quando a disfluência da fala ocorre, os ouvintes podem fiar desconfortáveis e tentar terminar as palavras, frases, ou enunciados pelo falante, podendo gaguez ser acompanhada por gestos, expressões faciais, ou movimentos do corpo. A gaguez tem um forte impacto nos ouvintes e recebe uma forte atenção por parte dos profissionais, ainda que não tenha uma prevalência tão grande como os outros problemas de comunicação.


1.2. Dificuldades da Linguagem

As perturbações da linguagem são definidas por dificuldades ou desvio do desenvolvimento da compreensão e/ou da produção de um sistema simbólico (falado, escrito ou outro) (Cruz-Santos, 2002). Esta perturbação envolve: a forma da linguagem (fonologia, morfologia e sintaxe); o conteúdo da linguagem (sistema semântico); e o uso ou função da linguagem (sistema pragmático), devendo ter-se em conta as combinações possíveis. Para o melhor entendimento dos tipos de perturbações, há que ter em conta os seguintes conceitos:

·         Forma (Fonologia, Morfologia e Sintaxe)

Diz respeito aos elementos linguísticos que contem sons e símbolos com significado, ou seja, às regras que orientam os sons e as suas combinações (fonologia), às regras que orientam a organização interna das palavras e às que especificam como as palavras devem ser ordenadas nos diferentes tipos de frases (sintaxe).

·         Conteúdo (semântica)

O aspecto do conteúdo da linguagem envolve a componente da semântica que é responsável pelo significado da língua e noções relacionadas. Inclui conhecer os significados acordados de determinadas cadeias de sons e saber combinar estas unidades noutras, mais vastas, também elas portadoras de significado (Oliveira, 1996).

·         Uso (pragmático)

O uso pragmático consiste num sistema psicolinguístico que padroniza o uso da linguagem na comunicação, em contextos sociais. Quando abordamos problemas de comunicação, algumas questões relacionadas com diferentes formas de comunicação poderão surgir, daí a necessidade de apresentarmos dois conceitos que estão relacionados com as variações da comunicação.

ü  Comunicação regional, social ou cultural

Consiste numa variação de um sistema simbólico utilizado por um grupo de indivíduos que reflecte e determina uma partilha de factores regional, social e cultural. Variações ou alterações no uso de um sistema poderão ser indicativo de interferências da língua materna. Uma variação regional, social ou cultural de um sistema não deverá ser considerada uma perturbação da linguagem ou fala.

ü  Comunicação alternativa e aumentativa

Consiste num sistema usado como suplemento à aquisição das competências linguísticas individuais. É dirigido aos indivíduos que apresentam uma fala temporariamente ou permanentemente inadequada para atender as necessidades na comunicação. Os dispositivos protésicos e/ou as ajudas técnicas poderão ser desenhadas individualmente para serem utilizadas como um sistema aumentativo de comunicação.

1.1.1.      Categorias dos Problemas da Linguagem

Hallahan (1997), descreveram 4 categorias relativamente as perturbações da linguagem: ausência da linguagem verbal; linguagem qualitativa diferente; atraso no desenvolvimento da linguagem; e interrupção no desenvolvimento da linguagem. Essas categorias são sumarizadas no quadro a seguir:

Tipo

Factores causais ou condições relacionadas

Ausência de linguagem verbal

A criança não apresenta ter linguagem receptiva ou linguagem expressiva espontânea aos três anos

·         Perda de audição congénita ou adquirida precocemente

·         Perturbações do desenvolvimento /DEFIENCIA MENTAL

·         Problemas emocionais graves


Linguagem qualitativa diferente

A criança apresenta uma linguagem diferente dos seus pares sem necessidades especiais, em qualquer estágio de desenvolvimento-por vezes, o significado de comunicação não existe ou está desfasado

·         Problemas emocionais graves

·         Dificuldades de aprendizagem

·         Deficiência mental/perturbações do desenvolvimento

·         Perda auditiva

Atraso do desenvolvimento da linguagem

A criança apresenta linguagem que obedece a sequência normal de desenvolvimento, mas com um atraso relativamente as crianças da mesma idade cronológica

·         Derivação experiencial

·         Pouca estimulação linguística

·         Deficiência mental

·         Perda auditiva


Interrupção do desenvolvimento da linguagem

O desenvolvimento da linguagem decorre normalmente mas poder ser interrompido por motivos de doença, acidente ou qualquer trauma; poderá ser adquirida uma perturbação da linguagem

·         Perda auditiva adquirida

·         Lesão cerebral, traumatismo craniano ou infecções


CORREIA (2008),apresenta os transtornos da fala subdivididos em quatro grupos principais:

ü  Afasia motora ou de expressão (afasia de Broca)

ü  Afasia sensorial ou receptiva (Afasia de Wernicke)

ü  Afasia de condução ou de sintaxe (afasia de Goldstein)

ü  Afasia global

Afasia motora ou de expressão (afasia de Broca) - Esta variedade surge sempre em consequência de lesão nas proximidades da área de Broca. Contudo é oportuno recordar que a área de Broca está muito próximo do córtex motor; assim, a pessoa, embora sabendo o que deseja falar ou expressar, vê-seimpossibilitado de fazê-lo devido à lesão dos centros neurológicos necessários à coordenação dos movimentos responsáveis pela emissão daqueles sons adequados para esta comunicação.Logo, recomenda-se testar a capacidade de escrita usando-se a mão não afectada, que é geralmente a esquerda.

ü  Afasia sensorial ou receptiva (Afasia de Wernicke)- Esse transtorno possui valor localizatório, pois quase que invariavelmente é devido a uma lesão na área de Wernicke do hemisfério cerebral dominante. Ocorre falta completa ou a parte de compreensão estando a fala preservada, fluente, mas desconexa. Uma lesão nesta área produz enormes problemas na capacidade de compreensão, já que esse e o local da transformação de sons em palavras.

ü  Afasia de condução ou de sintaxe (afasia de Goldstein) - Pacientes costumam exibir uma fala fluente, porém repleta de parafasias (uso incorrecto de palavras).

ü  Afasia global- Pacientes com este tipo de disfasia são os únicos que poderiam ser definidos como realmente afásicos, pois sua linguagem, extremamente limitada, resume-se à emissão de grunhidos ininteligíveis.


2.      Sinais de alerta

Para a AAP (Academia Americana de Pediatria), os pais são quem melhor pode detectar problemas na fala ou linguagem; mas para isso têm de estar atentos aos sinais de alarme, que são os seguintes:

Idade

Sinais de alerta

Idade

Sinais de alerta

0-6

meses

·         Não reagir a estimulação sonora

·         Não sorrir

6-12 meses

·         Deixar de produzir sons-jogo sonoro

·         Não reagir ao seu nome

·         Não reagir a sons familiares (telefone, porta, campainha).

12-18

meses

·         Não usar monossílabos

·         Não brincar e não estabelecer contacto ocular

18-24

meses

·         Não compreender instruções simples

·         Não combinar duas palavras para formar frases

24-36

meses

·         Utilizar apenas duas palavras

·         Não formar frases

36-48

meses

·         Utilizar discurso ininteligível

·         Não formar frases simples

48-60

meses

·         Não relacionar acontecimentos simples e recentes

·         Omitir e trocar sons nas palavras

·         Ter dificuldades em iniciar uma frase / repetir sílabas e palavras (gaguez)

60-72

meses

·         Utiliza frases mal estruturadas

·         Dizer palavras ininteligíveis

·         Ter um discurso incoerente




Conclusão

As dificuldades de trabalhar na área de comunicação estão directamente condicionadas pelos problemas da fala e da linguagem. No processo de ensino e aprendizagem, os alunos com dificuldades de comunicação, carregam consigo uma história que lhe confere uma particularidade que condiciona negativamente o seu processo de aprendizagem e ao mesmo tempo criando dificuldades nos educadores para trabalhar nesta área. Aos professores cabe a tarefa, por vezes muito difícil, de ajudar estas crianças a colmatar estas dificuldades que não comprometem só as suas aprendizagens escolares mas a sua vida em geral, dificultando a sua inclusão em grupos sociais, criando-lhes estigmas e frustrações.

A ajuda a estes alunos passa pela criação de estratégias de ensino aprendizagem e pela articulação entre os diferentes profissionais que acompanham o processo de desenvolvimento dos mesmos, com um destaque especial para a família, devendo esta conferir-lhe um suporte emocional que contribua para a sua estabilidade também fundamental para o sucesso educativo dos mesmos.

Sendo assim necessário o recurso a estratégias facilitadoras, com o objectivo destes alunos conseguirem adquirir as competências do currículo comum e tornarem-se alunos com o maior índice de sucesso escolar, pessoal e social.Neste processo, o professor tem um papel de importância estratégica, conhecer os alunos no ambiente onde estas dificuldades mais se manifestam, e estar preparados para trabalhar com estes alunos com ou sem apoio de educação especial.Assim como todos os profissionais que lidam com a área de comunicação, deve estar atento para os sinais de alerta e factores de risco para alterações no desenvolvimento da linguagem.

A

Referências bibliográficas

1.      ----------------- (2006). Dicionário de Língua Portuguesa

2.      American Academy of Podiatry (AAP). Guides to your Child’s Symptoms: Speech development: www.aap.org/pubserv/speech.htm. (20.08.2019).

3.      Correia, L. (2008) Inclusão e Necessidades Educativas Especiais. 2a edição, Porto Editora.

4.      Cruz-Santos, A. (2002). Problemas de Comunicação em Alunos com Necessidades Especiais: Um Contributo para a sua Compreensão. Universityof Minho.

5.      Hardman, M., Drew, C., e Egan W. (1996). Human Exceptionality: Society, School and Family. Boston: Allyn and Bacon.

6.      Heward, W. (2000). Exceptional Children: An Introduction to Special Education. New Jersey: Merrill Publishing Company.

0 comentários:

Enviar um comentário