quarta-feira, 20 de abril de 2022

Fundamentos e princípios da pedagogia para Educação de Infância na Pré-Escola.

Áreas de Conteúdo

Área do Conhecimento do Mundo

 

Os seres humanos desenvolvem-se e aprendem em interação com o mundo que os rodeia. Ao iniciar a educação pré-escolar, a criança já sabe muitas coisas e construiu algumas ideias não só sobre o mundo social e natural envolvente, mas também sobre o modo como se usam e para que servem objetos, instrumentos e máquinas do seu quotidiano.

A área do Conhecimento do Mundo enraíza-se na curiosidade natural da criança e no seu desejo de saber e compreender porquê. Esta sua curiosidade é fomentada e alargada na educação pré-escolar através de oportunidades para aprofundar, relacionar e comunicar o que já conhece, bem como pelo contacto com novas situações que suscitam a sua curiosidade e o interesse por explorar, questionar descobrir e compreender. A criança deve ser encorajada a construir as suas teorias e conhecimento acerca do mundo que a rodeia.

Encara-se a Área do Conhecimento do Mundo como uma sensibilização às diversas ciências naturais e sociais abordadas de modo articulado, mobilizando aprendizagens de todas as outras áreas. Assim, para estruturar e representar a sua compreensão do mundo, as crianças recorrem a diferentes meios de expressão e comunicação (linguagem oral e escrita, matemática e linguagens artísticas).

A abordagem ao Conhecimento do Mundo implica também o desenvolvimento de atitudes positivas na relação com os outros, nos cuidados consigo próprio, e a criação de hábitos de respeito pelo ambiente e pela cultura, evidenciando-se assim a sua inter-relação com a área de Formação Pessoal e Social. As crianças vão compreendendo o mundo que as rodeia quando brincam, interagem e exploram os espaços, objetos e materiais. Nestas suas explorações, vão percebendo a interdependência entre as pessoas e entre estas e o ambiente. Assim, vão compreendendo a sua posição e papel no mundo e como as suas ações podem provocar mudanças neste. Uma abordagem, contextualizada e desafiadora ao Conhecimento do Mundo, vai facilitar o desenvolvimento de atitudes que promovem a responsabilidade partilhada e a consciência ambiental e de sustentabilidade. Promovem-se assim valores, atitudes e comportamentos face ao ambiente que conduzem ao exercício de uma cidadania consciente face aos efeitos da atividade humana sobre o património natural, cultural e paisagístico.

A abordagem do Conhecimento do Mundo parte do que as crianças já sabem e aprenderam nos contextos em que vivem. A exploração do meio próximo da criança tem para esta um sentido afetivo e relacional, que facilita a sua compreensão e apreensão e também proporciona a elaboração de quadros explicativos para compreender outras situações mais distantes. De facto, hoje em dia, as crianças contactam com instrumentos e técnicas complexos e têm acesso, através dos media e das tecnologias digitais, a saberes sobre realidades mais distantes, que também fazem parte do seu mundo, e, de que, gradualmente, se vão apercebendo e apropriando. Por isso, se incluem nesta área as ferramentas ligadas às tecnologias e meios de comunicação e informação.

Sendo a finalidade essencial da área do Conhecimento do Mundo lançar as bases da estruturação do pensamento científico, que será posteriormente mais aprofundado e alargado, importa que haja sempre uma preocupação de rigor, quer ao nível dos processos desenvolvidos, quer dos conceitos apresentados, quaisquer que sejam os aspetos abordados e o seu nível de aprofundamento. É essencial que se vá construindo uma atitude de pesquisa, centrada na capacidade de observar, no desejo de experimentar, na curiosidade de descobrir numa perspetiva crítica e de partilha do saber.
Esta compreensão e relação com o mundo levam a considerar três grandes componentes organizadoras das aprendizagens a promover na área do Conhecimento do Mundo:

  • Introdução à Metodologia Científica;
  • Abordagem às Ciências;
  • Mundo Tecnológico e Utilização das Tecnologias

 

Introdução à metodologia científica

A introdução à metodologia própria das ciências parte dos interesses das crianças e dos seus saberes, que o/a educador/a alarga e contextualiza, fomentando a curiosidade e o desejo de saber mais. Interrogar-se sobre a realidade, definir o problema, para decidir o que se quer saber e procurar a solução, constitui a base da metodologia científica.

O desenvolvimento da área do Conhecimento do Mundo assenta no contacto com a metodologia própria das ciências para fomentar nas crianças uma atitude científica e investigativa. Esta atitude significa seguir o processo de descoberta fundamentada que caracteriza a investigação científica. Assim, a partir de uma situação ou problema, as crianças terão oportunidade de propor explicações, de desenvolver conjeturas e de confrontar entre si as suas “teorias” e perspetivas sobre a realidade. A partir de uma melhor definição do problema, decide-se se é necessário verificar esses conhecimentos e/ou recolher mais informações e como o fazer. Importa depois que as crianças verifiquem as "hipóteses" elaboradas, através de procedimentos que podem ser diversos, consoante a situação (experiência, observação, recolha de informação). A organização destes dados implica a necessidade de usar formas de registo que permitam classificá-los e ordená-los e, eventualmente, quantificá-los, através de desenhos, gráficos, medições, etc. A sistematização do conhecimento obtido pode também exigir a consulta de mais informação, de modo a enquadrá-lo e a precisar conceitos mais rigorosos e científicos que tiveram como base a partilha e o questionamento das explicações das crianças. Todo este processo conduzirá, muito provavelmente, ao levantar de novas questões que determinam novos aprofundamentos.

O apoio do/a educador/a à organização e sistematização das etapas deste processo permite à criança apropriar-se progressivamente da metodologia científica, compreender a necessidade de construir conceitos mais rigorosos e adotar uma atitude de pesquisa na sua procura de compreensão do mundo.

 

Aprendizagem a promover:  

  • Apropriar-se do processo de desenvolvimento da metodologia científica nas suas diferentes etapas: questionar, colocar hipóteses, prever como encontrar respostas, experimentar e recolher informação, organizar e analisar a informação para chegar a conclusões e comunicá-las.

Esta aprendizagem pode ser observada por exemplo, quando a criança: 

  • Demonstra curiosidade e interesse pelo que a rodeia, observando e colocando questões que evidenciam o seu desejo de saber mais. 
  • Encontra explicações provisórias para dar resposta às questões colocadas. 
  • Participa com interesse no planeamento e implementação da metodologia que caracteriza o processo de descoberta da investigação científica (observar, comparar, pesquisar, experimentar, registar, tirar conclusões). 
  • Participa na organização e apresentação da informação, de modo a partilhar com outros (colegas da sala, outras crianças e/ou adultos) os conhecimentos, resultados e conclusões a que chegou. 
  • Demonstra envolvimento no processo de descoberta e exploração e revela satisfação com os novos conhecimentos que construiu. 

 O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Organiza o ambiente educativo de forma a estimular a curiosidade da criança:
  • Disponibiliza diferentes fontes e meios para apoiar o processo de descoberta, tais como: materiais de consulta (livros, jornais, vídeos, fotografias, mapas, internet, etc.), o envolvimento de familiares das crianças, de pessoas da comunidade e de especialistas, etc.
  • Facilita o acesso a diversos materiais para o registo dos processos e resultados das suas explorações (cadernos, tabelas, marcadores, máquina fotográfica, gravador, etc.).
  • Cria uma área das ciências com materiais diversos que incentivem as explorações e a experimentação:
  • materiais naturais - rochas, folhas, madeiras, conchas, plantas ou suas partes (caules, folhas, flores, frutos, raízes), etc.;
  • materiais habituais na vida corrente - recipientes, colheres, funil, etc.;
  • materiais mais específicos dos contextos ligados às ciências - ímanes, lupas, binóculos, microscópios, globo terrestre, etc.
  • Está atento/a e valoriza as explorações das crianças, os seus interesses e descobertas e usa-os como ponto de partida para o processo de desenvolvimento de novos conhecimentos. 
  • Incentiva a curiosidade das crianças, colocando perguntas que as levam a pensar, a interrogar-se e a querer saber mais (Repararam que…?; Como podemos descobrir?; Haverá outra forma de fazer?; De que precisamos?; O que irá acontecer se…?; Por que razão achas que isto acontece?; etc.).
  • Promove a interação e o trabalho colaborativo no grupo, de modo a que as crianças aprendam umas com as outras ao confrontarem perspetivas, procedimentos e saberes.
  • Apoia as crianças na realização de atividades práticas e investigativas e no desenvolvimento de projetos de pesquisa (na recolha de informação e na sua sistematização e comunicação).
  • É rigoroso/a tanto na referência aos conceitos científicos, como na utilização de vocabulário específico das ciências.
  • Apoia as crianças na identificação e utilização dos instrumentos e recursos necessários às atividades práticas e investigativas que desenvolvem (uso do microscópio, termómetro, balança, pinças, etc.).

 

Abordagem às Ciências

A introdução às diferentes ciências inclui, para além do alargamento e desenvolvimento de saberes da criança proporcionados pelo contexto de educação pré-escolar e pelo meio social e físico em que esta vive, a abordagem de aspetos científicos que ultrapassam as suas vivências imediatas. 

Na multiplicidade de domínios científicos que podem ser tratados e na diversidade de aprendizagens que podem proporcionar, importa que o/a educador/a esteja atento aos interesses das crianças e às suas descobertas, para escolher criteriosamente quais as questões a desenvolver, interrogando-se sobre o seu sentido para a criança, a sua pertinência, as suas potencialidades educativas e a sua articulação com os outros saberes.

Na abordagem às ciências podem explorar-se saberes relacionados, tanto com a construção da identidade da criança e o conhecimento do meio social em que vive, como relativos ao meio físico e natural. Embora existam articulações entre estes saberes, eles serão em seguida apresentados separadamente, de modo a facilitar a sua contextualização.


Conhecimento do mundo social

 Existe um conjunto de conhecimentos relativos ao meio social e cultural que a criança vai adquirindo nos seus contextos sociais imediatos (família e jardim de infância) e no ambiente da sua comunidade. Estes saberes facilitam uma progressiva consciência de si, do seu papel social e das relações com os outros e uma melhor compreensão dos espaços e tempos que lhe são familiares, permitindo-lhe situar-se em espaços e tempos mais alargados.

 Na educação pré-escolar podem explorar-se aspetos relacionados com o conhecimento de si (características físicas, nome, idade) e com os seus contextos mais próximos (família, escola, comunidade próxima). Neste âmbito incluem-se saberes que permitem a identificação e apropriação de conhecimentos sobre os membros da sua família (grau de parentesco, origens, ocupação, profissões, etc.). Também é importante o desenvolvimento de conhecimentos sobre o contexto escolar, não só no que se refere às características do espaço físico, mas também aos membros que o integram, os seus papéis e inter-relações. Podem ainda ser incluídas as características físicas, culturais e sociais, da comunidade, tanto em termos mais restritos (rua, bairro, localidade), como em termos mais alargados (outras zonas do país, outros países). Enquanto cidadã europeia, a criança deverá ter oportunidade de desenvolver um sentimento de pertença, que não pressupõe uma identidade uniforme, mas decorre de uma história heterogénea, com influências diferentes resultando numa comunidade plural em termos de vivências, culturas, valores, etc. A abordagem a estes aspetos deve ser feita numa perspetiva global, considerando não só o momento presente, como também o passado próximo ou distante, promovendo-se na criança a compreensão gradual da sua situação no espaço e no tempo sociais. A consciencialização das rotinas, dos diferentes momentos que se sucedem ao longo do dia e ao longo do ano, a elaboração e uso de horários e calendários são importantes para a compreensão de unidades básicas do tempo. É através destas vivências que a criança toma consciência do desenrolar do tempo: o antes e o depois, a sequência semanal, mensal e anual e ainda o tempo marcado pelo relógio. 

 Neste processo, há também que mobilizar intencionalmente estratégias que permitam à criança distinguir o presente do passado e prever o que vai fazer num futuro mais ou menos próximo, levando-a a compreender as semelhanças e as diferenças entre o que acontece no seu tempo e nos tempos de vida dos pais, dos avós e outros mais distantes. O desenvolvimento contextualizado e articulado destes saberes permitirá à criança conhecer as características da sua e de outras comunidades, os seus hábitos, costumes, tradições e elementos do património cultural e paisagístico, facilitando o desenvolvimento de atitudes de respeito e compreensão face à diversidade. 

 

Aprendizagens a promover:

  • Tomar consciência da sua identidade e pertença a diferentes grupos do meio social próximo (por exemplo, família, jardim de infância, amigos, vizinhança). 
  • Reconhecer unidades básicas do tempo diário, semanal e anual, compreendendo a influência que têm na sua vida. 
  • Conhecer elementos centrais da sua comunidade, realçando aspetos físicos, sociais e culturais e identificando algumas semelhanças e diferenças com outras comunidades.
  • Estabelecer relações entre o presente e o passado da sua família e comunidade, associando-as a objetos, situações de vida e práticas culturais.
  • Conhecer e respeitar a diversidade cultural.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança: 

  • Sabe o seu nome completo e idade, onde vive, a sua nacionalidade e é capaz de se descrever, indicando algumas das suas características individuais.
  • Utiliza termos como dia, noite, manhã, tarde, semana, mês, nas suas narrativas e diálogos.
  • Identifica os membros da família próxima e fala sobre os graus de parentesco. 
  • Identifica diferentes elementos da comunidade educativa, percebendo os seus papéis específicos. 
  • Refere e identifica a atividade associada a algumas profissões com que contacta no dia a dia (de pais, de familiares, da comunidade). 
  • Associa rotinas a determinados momentos ou alturas do dia.
  • Nomeia e descreve aspetos físicos característicos da sua comunidade tais como ruas, pontes, transportes, edifícios.
  • Identifica algumas manifestações do património cultural e paisagístico do seu meio e de outros meios como, por exemplo, tradições, arquitetura, festividades.
  • Revela interesse em saber as semelhanças e diferenças entre o que acontece no seu tempo e nos tempos de vida dos pais e avós.
  • Compreende e aceita a diversidade de hábitos, vestuário, alimentação, religiões, etc. caraterísticos de diferentes realidades culturais.

 O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Organiza o ambiente educativo de forma a incentivar o conhecimento das crianças sobre elas próprias e sobre o meio social envolvente.

Envolve as crianças e as famílias na recolha de materiais que reflitam a sua diversidade cultural e mudanças ao longo do tempo (roupas, fotografias, utensílios, artefactos, alimentos, etc).


Disponibiliza livros, imagens, filmes, materiais e atividades representativos da diversidade cultural e étnica (artes visuais, música, literatura, dança, teatro), e de paisagens, hábitos e costumes de outras regiões e culturas. Organiza a rotina diária, de modo a facilitar a compreensão e apropriação gradual de unidades básicas do tempo. Envolve as crianças em conversas individuais ou em pequeno grupo, levando-as a comparar as semelhanças e diferenças entre elas (tons do cabelo, dos olhos e da pele, interesses, preferências, etc.)Leva as crianças a compreenderem as semelhanças e diferenças entre meios diversos e ao longo do tempo (semelhanças e diferenças de habitação nas cidades e aldeias atuais, na maneira de vestir agora e no passado, etc.), podendo ainda imaginar como poderá ser no futuro. Valoriza a família de cada criança, convidando as famílias a partilharem os seus hábitos, atividades, tradições, saberes, etc.
Estabelece relações com a comunidade envolvente, facilitando o conhecimento das crianças sobre o meio próximo (bairro, localidade). Conversa com as crianças sobre os elementos do património cultural (local ou mundial) com que contactam, debatendo formas de o preservar e como o podem fazer. Alarga os conhecimentos das crianças sobre o meio social e cultural aproveitando datas e eventos nacionais e internacionais para refletir com elas sobre o seu significado. Promove a reflexão sobre a diversidade cultural e social aproveitando datas e eventos nacionais e internacionais.

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Conhecimento do mundo físico e natural 

 O contacto com seres vivos e outros elementos da natureza e a sua observação são normalmente experiências muito estimulantes para as crianças, proporcionando oportunidades para refletir, compreender e conhecer as suas características, as suas transformações e as razões por que acontecem. Este conhecimento poderá promover o desenvolvimento de uma consciencialização para a importância do papel de cada um na preservação do ambiente e dos recursos naturais.

O conhecimento das crianças sobre a paisagem local, ou seja, o reconhecimento dos seus elementos sociais, culturais e naturais e a interação entre eles, contribui para melhorar a ligação afetiva e pessoal com esta, alicerçando a identidade local e o sentido de pertença a um lugar. Esta atitude de pertença positiva para com o lugar onde se vive é desenvolvida, em paralelo, com um maior sentido de responsabilidade para salvaguardar os valores locais (naturais, sociais, históricos, …) e com uma consciencialização para as consequências das ações humanas sobre o território. A leitura da paisagem pode ocorrer de forma direta através da observação do local onde vivem ou de um que visitaram, ou de forma indireta recorrendo a imagens, fotografias, vídeos, mapas, etc.

Alguns conteúdos relativos à biologia (conhecimento dos órgãos do corpo, dos animais, do seu habitat e costumes, de plantas, etc.) e ainda à física e à química (luz, ar, água, etc.) podem originar experiências a realizar por crianças em idade pré-escolar, permitindo a compreensão de um conjunto de saberes nesta área. Alguns destes conhecimentos articulam-se diretamente com questões ligadas à saúde e segurança (práticas de segurança rodoviária, de higiene corporal, de alimentação, de exercício físico) que conduzem a uma sensibilização das crianças para os cuidados com a saúde e com o corpo e para a prevenção de acidentes.Os conhecimentos de meteorologia (vento, chuva, etc.) são aspetos que interessam às crianças e que podem ter um tratamento mais aprofundado, para além da sua observação e registo. Neste sentido, também as aprendizagens podem ampliar-se e diversificar-se, para além do meio imediato, tanto em geografia (o planeta Terra, algumas noções do sistema solar e da influência do sol na vida da terra, os rios, os mares, os acidentes orográficos, etc.), como em geologia (comparação e coleção de rochas, observação das suas propriedades). Tendo em conta o contexto e os interesses das crianças, poderá ainda ser explorada a noção de energia e a diferença entre fontes de energia renovável e não renovável. 

Aprendizagens a promover:

  • Compreender e identificar características distintivas dos seres vivos e reconhecer diferenças e semelhanças entre animais e plantas.
  • Compreender e identificar diferenças e semelhanças entre diversos materiais (metais, plásticos, papéis, madeira, etc.), relacionando as suas propriedades com os objetos feitos a partir deles. 
  • Descrever e procurar explicações para fenómenos e transformações que observa no meio físico e natural.
  • Demonstrar cuidados com o seu corpo e com a sua segurança.
  • Manifestar comportamentos de preocupação com a conservação da natureza e respeito pelo ambiente.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança: 

  • Reconhece e identifica partes do corpo e alguns órgãos, incluindo órgãos dos sentidos, e compreende as suas funções. 
  • Usa e justifica algumas razões de práticas promotoras da saúde e segurança (lavar as mãos antes das refeições, evitar o consumo excessivo de doces e refrigerantes, atravessar nas passadeiras, etc.). 
  • Se reconhece como ser vivo com características e necessidades semelhantes às dos outros seres vivos (crescimento, nutrição, abrigo, etc.).
  • Conhece diferentes animais, diferenciando-os pelas suas características e modos de vida (aquáticos/ terrestres, com e sem bico, com e sem pelo, aves/ peixes/ mamíferos, domésticos/selvagens, etc.).
  • Mostra curiosidade e procura uma explicação para fenómenos atmosféricos que observa (chuva, vento, nuvens, trovoada, etc.). 
  • Antecipa e expressa as suas ideias sobre o que pensa que vai acontecer numa situação que observa ou experiencia e procura explicações sobre os resultados (mistura de água com areia, com açúcar, com azeite; objetos que flutuam e não flutuam; efeitos de luz e sombra, atração por um íman; gelo que derrete, mistura de cores, etc.).
  • Antecipa e expressa as suas ideias sobre o que acontece, quando determinadas forças atuam sobre os seres vivos e os objetos em situações que observa ou experiencia (o que acontece quando um ser vivo ou objeto é puxado ou empurrado com mais ou menos força; o que sucede quando os objetos em movimento chocam; o que acontece num balancé quando objetos com a mesma massa são colocados em diferentes posições dos braços).  
  • Partilha as suas ideias sobre como se processam algumas transformações naturais (a queda das folhas das árvores, o vento, a sucessão dia/noite, etc.).
  • Demonstra, no quotidiano, preocupações com o meio ambiente (apanhar lixo do chão, fechar as torneiras, apagar as luzes, etc.) 
  • Desfruta e aprecia os espaços verdes e o contacto com a natureza. 

 O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Organiza o ambiente educativo de forma a estimular e apoiar a curiosidade das crianças nas suas tentativas de compreenderem o meio físico e natural:
    • Disponibiliza e envolve as crianças e as famílias na recolha de materiais naturais (sementes de frutos, de cereais e outras plantas, rochas diversas, etc.) e outros materiais (metais, plásticos, papéis, etc.).
    • Disponibiliza livros, mapas, imagens, filmes, documentos diversos para consulta (enciclopédias, livros sobre ciência, informação da internet, fotografias, etc.).
    • Mobiliza as famílias e outros elementos da comunidade (outros professores, alunos mais velhos, especialistas) na recolha de informação e no processo de descoberta. 
  • Utiliza situações do quotidiano para questionar e promover a reflexão e interpretação das crianças sobre os fenómenos do meio físico e natural (a planta da sala que murchou, o ‘bicho-de-conta’ que uma criança traz, a queda de granizo, etc.).
  • Apoia as crianças no processo de realização de experiências significativas, nas suas observações, registos e conclusões.
  • Cria oportunidades frequentes e diversificadas de contacto das crianças com a natureza, levando-as a observá-la, a conhecê-la e a apreciá-la.
  • No dia a dia, incentiva comportamentos e hábitos saudáveis (comer vegetais, fazer exercício físico, não mexer nem ingerir produtos que não conhece, etc.).
  • Promove a participação e responsabilidade das crianças no cuidado e proteção de seres vivos dentro e fora da escola (cuidar de plantas, de animais ou da horta na escola; cuidado com ninhos, plantas e animais nos jardins, parques e espaços verdes fora da escola).
  • Facilita a discussão e reflexão sobre os efeitos favoráveis e desfavoráveis da ação humana sobre o ambiente.

Mundo Tecnológico e Utilização das Tecnologias

Os recursos tecnológicos fazem hoje parte da vida de todas as crianças, tanto em momentos de lazer (brinquedos tecnológicos, computadores, tablets, smartphones, televisão, etc.), como no seu quotidiano (batedeira elétrica, aquecedor, secador de cabelo, códigos de barras, lanternas, etc.).Estes recursos são muitas vezes integrados no jogo simbólico, em que a criança faz de conta que fala ao telefone ou ao telemóvel, utiliza um objeto para fazer de caixa registadora numa situação de supermercado ou para fingir que tira fotocópias. A observação destas situações permite ao/a educador/a compreender o papel das tecnologias na vida da criança, e partir do que esta sabe para alargar o seu conhecimento e apoiar formas de o utilizar. O acesso ao computador no jardim de infância, ou noutro local da comunidade, é um meio privilegiado na recolha de informação, na comunicação, na organização, no tratamento de dados, etc. Assim, possibilita aprendizagens, não só no âmbito do conhecimento do mundo, como também nas linguagens artísticas, na linguagem escrita, na matemática, etc.A importância dos meios tecnológicos e informáticos no conhecimento do mundo, próximo e distante, e no contacto com outros valores e culturas faz com que a sua utilização no jardim de infância seja considerada como um recurso de aprendizagem. Deste modo, contribui-se também para uma maior igualdade de oportunidades, uma vez que o acesso das crianças a estes meios poderá ser muito diverso. 

 Sabendo que as tecnologias exercem uma forte atração sobre as crianças e desempenham um papel importante na sua vida diária, importa que estas, desde cedo, sejam apoiadas a fazer uma “leitura crítica” dessa influência, a compreender as suas potencialidades e riscos e a saber defender-se deles. A educação para os media acompanha a utilização dos meios tecnológicos e informáticos como ferramentas de aprendizagem, havendo assim uma articulação com outras áreas de conteúdo.A compreensão dos meios tecnológicos implica que a criança não seja apenas consumidora (consultar, ver filmes, etc.), mas também produtora (fotografar, registar, etc.), alargando, deste modo, os seus conhecimentos e perspetivas sobre a realidade. 

Aprendizagens a promover:

  • Reconhecer os recursos tecnológicos do seu ambiente e explicar as suas funções e vantagens.
  • Utilizar diferentes suportes tecnológicos nas atividades do seu quotidiano, com cuidado e segurança.
  • Desenvolver uma atitude crítica perante as tecnologias que conhece e utiliza.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança: 

  • Fala sobre recursos tecnológicos existentes no seu meio, revelando algum conhecimento sobre a sua utilidade (semáforos, máquinas de lavar roupa e loiça, binóculos, cinema, câmara de vídeo, etc.). 
  • Usa vários recursos tecnológicos para recolher informação, comunicar, produzir diferentes tipos de trabalhos e organizar informação que recolheu (computador, máquina fotográfica, vídeo, etc.).
  • Conhece e respeita algumas normas de segurança na utilização da internet. 
  • Respeita as regras de segurança quer na utilização de recursos tecnológicos (máquina fotográfica, aparelhos de música, etc.) quer perante outros recursos (aquecedor, tomadas elétricas, etc.).
  • Nas suas brincadeiras utiliza ou “faz de conta” que utiliza diversos recursos tecnológicos (aspirador, máquina de barbear, multibanco, etc.).
  • Imagina e cria, a duas ou três dimensões, ‘máquinas’, robots ou instrumentos com uma finalidade específica.

 O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Organiza o ambiente educativo, de forma a promover o conhecimento e uso de recursos tecnológicos:
    • Disponibiliza diferentes suportes tecnológicos para serem utilizados em projetos e atividades no quotidiano do jardim de infância.
    • Proporciona oportunidades para o uso de tecnologias diversas na abordagem e exploração das diferentes áreas de conteúdo com o envolvimento das famílias.
    • Utiliza recursos tecnológicos existentes na comunidade envolvente.
  • Encoraja as crianças a observar, a falar sobre e a compreender a utilidade de diferentes recursos tecnológicos presentes no seu meio envolvente (semáforos, códigos de barras, iluminação das ruas, painéis informativos, etc.). 
  • Conversa com as crianças sobre os seus programas de TV e “heróis” favoritos, favorecendo o debate entre diferentes opiniões, e acerca do que é real, imaginário ou manipulado.
  • Encoraja as crianças a dialogarem acerca dos cuidados e das normas no uso de recursos tecnológicos visando a adoção de comportamentos e atitudes adequados a uma utilização crítica, responsável e segura.
  • Apoia as crianças na utilização do computador e na exploração das suas diferentes potencialidades.
  • Apoia as crianças a planearem e construírem máquinas, robots, instrumentos, que sejam réplicas dos existentes ou imaginados por elas (balança, telefone de fios, “máquina do tempo para crescer”, etc.).

 Síntese

ÁREA DO CONHECIMENTO DO MUNDO

Componentes

Aprendizagens a Promover

Introdução à Metodologia Científica

  • Apropriar-se do processo de desenvolvimento da metodologia científica nas suas diferentes etapas: questionar, colocar hipóteses, prever como encontrar respostas, experimentar e recolher informação, organizar e analisar a informação para chegar a conclusões e comunicá-las. 

Abordagem às Ciências

Conhecimento do mundo social

  • Tomar consciência da sua identidade e pertença a diferentes grupos do meio social próximo (por exemplo, família, jardim de infância, amigos, vizinhança). 
  • Reconhecer unidades básicas do tempo diário, semanal e anual, compreendendo a influência que têm na sua vida. 
  • Conhecer elementos centrais da sua comunidade, realçando aspetos físicos, sociais e culturais e identificando algumas semelhanças e diferenças com outras comunidades.
  • Estabelecer relações entre o presente e o passado da sua família e comunidade, associando-as a objetos, situações de vida e práticas culturais.
  • Conhecer e respeitar a diversidade cultural.

Conhecimento do mundo físico e natural

  • Compreender e identificar características distintivas dos seres vivos e identificar diferenças e semelhanças entre: animais e plantas.
  • Compreender e identificar diferenças e semelhanças entre diversos materiais (metais, plásticos, papéis, madeira, etc.), relacionando as suas propriedades com os objetos feitos a partir deles. 
  • Identificar, descrever e procurar explicações para fenómenos e transformações que observa no meio físico e natural.
  • Demonstrar cuidados com o seu corpo e de segurança.
  • Manifestar comportamentos de preocupação com a conservação da natureza e respeito pelo ambiente.
     

Mundo tecnológico e Utilização das Tecnologias

  • Reconhecer os recursos tecnológicos do seu ambiente e explicar as suas funções e vantagens.
  • Utilizar diferentes suportes tecnológicos nas atividades do seu quotidiano, com cuidado e segurança.
  • Desenvolver uma atitude crítica perante as tecnologias que conhece e utiliza.

 

Sugestões de reflexão:

  • Incentiva as crianças a interrogarem-se sobre o mundo que as rodeia? Como seleciona as questões que coloca para desenvolver processos de descoberta? 
  • Valoriza a troca de opiniões, propostas de explicação e sugestões entre crianças, ajudando-as a clarificar e planear o que pretendem saber e como? Como encoraja o seu processo de descoberta e construção do conhecimento?
  • Apoia as crianças a utilizarem diferentes formas de registo nos seus processos de descoberta (escrita, fotografia, gráficos, etc.)? Quais as funções desses registos? Qual a participação das crianças na sua recolha e análise? Quais as aprendizagens desenvolvidas?
  • Avalia com as crianças o que aprenderam? Facilita a comunicação dessa aprendizagem ao grupo, a outras crianças e/ou adultos? Como? 
  • Explora com as crianças a comunidade envolvente (próxima e mais distante), de modo a promover a compreensão da realidade e a construção de uma identidade pessoal e social? Reflita sobre as últimas situações em que isso ocorreu e pense noutras possibilidades.
  • Aproveita situações que ocorrem tanto no jardim de infância, como na comunidade para promover o conhecimento e o desenvolvimento de atitudes e comportamentos de respeito e proteção pelo meio natural e o património cultural envolventes?
  • Conhece e utiliza os recursos tecnológicos que poderão estar acessíveis na comunidade envolvente ao jardim de infância (biblioteca, junta de freguesia, associação recreativa, etc.)? Faz uso deles com as crianças e alerta as famílias sobre a sua existência e potencialidades? 
  • A utilização das tecnologias é feita de modo diversificado pelas crianças da sua sala? Pense nas funções mais frequentes para que são usadas e na sua diversidade (recolha de informação, registo, comunicação, ferramenta, etc.).

 

ARTIGO ORIGINAL

RODRIGUES, Micheli Evangelista [1], TOURO, Gilmara Pereira Macedo [2], FRAZÃO, Luzia Aparecida Martins [3], SILVA, Marlene Barbosa dos Santos [4], TEIXEIRA, Selma Ojeda[5], BORTOLUSSO, Simone [6], PORTO, Verônica Alves [7]

RODRIGUES, Micheli Evangelista. Et al. A matemática na educação infantil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 11, Vol. 01, pp. 118-127 Novembro de 2018. ISSN:2448-0959

 

 

A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

RESUMO

Este trabalho justifica-se pelo fato da observação de crianças com idades diferenciadas, porém na primeira infância,e nota-se que os mesmos estão em processo de aquisição de conhecimentos relacionados aos numerais, tanto quanto sua contagem, quanto sua representação. Pensando nessa perspectiva resolvemosesplanar o assunto relacionado à matemática no processo de desenvolvimento infantil.

palavras–chave: Matemática, Professor-mediador, Sociedade.

INTRODUÇÃO

A numeração e a contagem é algo muito relevante na atualidade no mundo globalizado em que vivemos, E torna-se cada vez mais necessário dominar a leitura, a escrita, a interpretação, também conseguir raciocinar matematicamente. Pensando nesse âmbito, é fato que a matemática desenvolve o pensamento no ser humano e que sua importância na primeira infância e na educação infantil é ímpar, ainda, auxiliando-nos a entrar em diferentes mundos de maneira interdisciplinar.

Sendo assim, o lúdico no auxílio do ensino matemático é ferramenta importante na mediação do conhecimento, estimulando à criança de maneira facilitadora e com entusiasmo, aguçando-a de maneira desafiadora, pois a criança aprende brincando; o brincar enriquece também as relações sociais e fortalece a relação entre o ser que ensina e o ser que aprende, tornando a criança um sujeito ativo e que constroi seu próprio conhecimento, deixando-o adquirir sua autonomia, indispensável na contemporaneidade. Neste contexto os jogos nos auxiliam no trabalho lúdico, trabalhando de forma prazerosa e facilitadora, arquitetando a matemática de modo a raciocinar construindo o conhecimento lógico, não mecanicamente. O professor é peça fundamental nesse processo, sendo o mediador e estimulador desse processo essencial do desenvolvimento intelectual humano.

A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Atualmente, frente às necessidades sociais e a avançada tecnologia e sua essencialidade são raros os momentos em que na sociedade não está inserida a matemática; portanto, é fato que a matemática é uma necessidade imperativa. Ela está presente até mesmo nos momentos dos quais nunca imaginávamos que estaria, logo que a criança inicia seus primeiros movimentos corpóreos ela está desenvolvendo um tipo de jogo matemático, onde o descobrir das mãos, pés, o próprio movimento de suas pernas são calculados inconscientemente, mas puramente matemáticos.

Segundo Gómez-Granell (1996,p.257)

[…] a maioria das ciências, inclusive as ciências humanas e sociais, como a psicologia, a sociologia ou a economia, tem um caráter cada vez mais matemático. Os comportamentos sociais, a ecologia, a economia, etc. se explicam através modelos matemáticos. Análises estatísticas e cálculos de probabilidade são elementos essenciais para tomar decisões políticas, sociais e econômicas e até mesmo sociais.

Nesta linha de raciocínio sabemos que o trabalho com a matemática não deve iniciar-se apenas no Ensino Fundamental, o que normalmente tem sido feito na educação brasileira, e, que essa disciplina não se resume a uma lista de fatos que devem ser memorizados, portanto, o presente trabalho tem por objetivo compreender o ensino da matemática desde a Educação Infantil, a fim de refletir sobre as práticas educativas nesta etapa da escolarização até o Ensino Fundamental.

Sendo assim O professor é peça chave, importante elo educacional, é o mediador e estimulador no processo de aprendizagem, possui sua função é de propiciar às crianças um ambiente em que possam explorar diferentes ideias matemáticas, que não sejam apenas numéricas, mas também referentes à geometria, às medidas e às noções de estatística, de forma prazerosa e que possam compreender a matemática como fator inserido na vida. Dessa maneira é imprescindível também que o professor avalie se o trabalho desenvolvido está atingindo os objetivos preestabelecidos. Diante disso,é fato que por muitas vezes o professor querendo inovar, buscando o aprendizado insere jogos no âmbito escolar, iremos falar sobre eles no decorrer do assunto, mas vale a pena ressaltar nesse momento que para se utilizar um jogo matemático devemos ter objetivos bem claros, bem planejados, pois o jogo que envolve o brincar sem uma meta, apenas brincar por si só, não auxilia no aprendizado do educando, apenas traçando metas claras poderá redirecionar sua prática pedagógica, com vistas a promover uma aprendizagem de matemática significativa para as crianças.

Na educação infantil, deve-se iniciar, portanto, os primeiros conceitos matemáticos, pois é nessa fase que a criança aprende e assimila o aprendizado com maior facilidade, no entanto, o professor deve ter um conhecimento amplo para não equivocar-se em seus objetivos.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:

A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, estas podem se caracterizar como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade, podendo ser públicas ou privadas, no período diurno ou vespertino, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. O Estado tem o dever de garantir a oferta da Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção. (BRASIL, 2010, p.12).

Sendo assim, nessa etapa da criança, o brincar e a ludicidade devem ser o ápice do aprendizado, as atividades devem ser prazerosas e motivadoras, também devem ajudar a criança a refletir o tempo todo, construindo por si mesma a sua matemática.

A ludicidade deve ser aplicada com objetivos pertinentes, pois, permite sua adequação para as demais áreas do conhecimento, representadas nesse contexto pela matemática. A interação, a socialização de ideias e a troca de informações são elementos indispensáveis nas aulas de matemática em todas as fases de escolaridade. Jamais esquecendo-se que o professor deve ter um olhar voltado para a criança como sendo um ser com um conhecimento prévio social.

O que leva muitas vezes a criança em todos os níveis a possuir dificuldades em matemática também é o fato da matemática possuir uma linguagem meramente técnica, isso dificulta o aprendizado, mas a matemática tida como moderna exige esse saber técnico que deve ser promovido pela escola no decorrer do Ensino Fundamental. No entanto, a criança vai adquirindo uma linguagem matemática de maneira social, no brincar, seja para marcar a passagem do tempo, medir distâncias, distinguir o pesado do leve, ter conceitos espaciais como em cima e embaixo, fora e dentro, frente e atrás ou tão simples como repartir algo ou mesmo complexa como projetos de engenharia,segundoVygotsky:

O processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação. (Vygotsky, 1996)

Vygotsky na verdade enfatiza que o meio influência na formação do sujeito, pois o meio transforma o sujeito.

A matemática é utilizada no nosso cotidiano assim como no da criança, deve ser trabalhado o que faz parte desse universo infantil como a idade, o corpo, os brinquedos, as músicas, comparações, os jogos e brincadeiras. Ela deve ser ensinada como instrumento para interpretação das coisas que rodeiam nossas vidas e o mundo, formando assim pessoas conscientes para a cidadania e a criatividade e não somente como memorização, alienação e exclusão.

Nesta perspectiva a Matemática está presente em muitas das atividades realizadas pelas crianças, por exemplo, distribuir materiais entre os colegas; calcular a distância entre sua posição e um alvo a ser atingido; pensar no trajeto mais curto para se deslocar de um lugar a outro. Dentre os conhecimentos que serão construídos nessa etapa da escolaridade, a matemática ocupa um lugar de destaque.

Neste contexto, numerosas pesquisas têm apontado a relevância do trabalho com essa disciplina para as crianças pequenas, especialmente no que diz respeito à construção do conceito de número, além das noções ligadas às grandezas e medidas, bem como espaço e forma.

Existem muitas formas de conceber e trabalhar com a Matemática na Educação Infantil,sendoquea mesma está presente na arte, na música, em histórias, na forma como organizamos o pensamento, nas brincadeiras e jogos infantis. O importante é que o professor perceba que pode trabalhar a matemática na Educação Infantil sem se preocupar tanto com a representação dos números ou com o registro no papel, pode colocar em contato com a matemática crianças de todas as idades, desde bebês. A criança é um ser em formação. Deve-se cuidar para que essa formação seja natural e a mais rica possível em termo de possibilidades.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil “A Educação Infantil é colocada como a primeira etapa da Educação Básica, devendo ser ofertada pelo Estado com qualidade garantida”.

Desde seu nascimento a criança vive num mundo cheio de conhecimentos matemáticos, que são parte integrante de sua vida mesmo que ela não a perceba, a matemática está presente em tudo em nossas vidas, desde o momento que colocamos água em um copo o suficiente para que ele não transborde, ou, quando reparto uma bolacha com um amigo.

Pensando nesse âmbito a Educação Infantil representa uma etapa importantíssima no processo de ensino e aprendizagem na vida do aluno, é esse contato riquíssimo social, cultural e porque não dizer “conteudístico” que irá gerar vários aprendizados na primeira infância.

Sendo assim, na Educação Infantil, o trabalho com noções matemáticas deve atender, por um lado, às necessidades da própria criança de construir conhecimentos que incidam nos mais variados domínios do pensamento e, por outro, precisa corresponder a uma necessidade social, isto é, o aprendizado para a vida, participar e compreender um mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades. Mas, faz-se necessário saber na educação infantil onde se quer chegar com “tal” conhecimento, saber aonde se quer chegar para escolher os caminhos a seguir, daí a necessidade de um planejamento e de estabelecer às razões de se trabalhar as ideias matemáticas na educação infantil, um momento que serve para alicerçar a construção dos conceitos matemáticos.

As noções matemáticas tais como contar e estabelecer relações quantitativas e espaciais dentre outras, são construídas pelas crianças através de interações com o meio e através das relações interpessoais. A criança na faixa etária de 0 a 8 ou 9 anos por muitas vezes ainda não é capaz de fazer abstrações mentais, portanto, trabalhar matematicamente com materiais concretos é de suma importância e altamente rico.

No entanto, vale a pena ressaltar que o trabalho com materiais concretos deve ser planejado sistematicamente e deixando bem claro quais metas, quais objetivos o professor quer atingir, não é porque a criança simplesmente manipula um objeto que ela aprende, o manipular somente durante a brincadeira sem a mediação do professor não é por si só objeto de aquisição de conhecimento, não é porque a criança simplesmente brinca que ela aprende, a criança deve ser estimulada, indagada, transformada em sujeito pensante que constrói sua matemática.

O professor é o mediador das crianças neste processo, buscando questionar, desafiar e promover situações de incentivo às manifestações de autonomia, criatividade e verbalização do educando, deve-se lembrar também que cada criança tem seu tempo de aprendizagem, respeitando o limite de cada uma, não forçando, e assim cada criança vai descobrindo um novo mundo, o mundo dos números, do raciocínio lógico. Exercitando a criança a pensar, raciocinar, esperar a sua vez, respeitando a opinião do colega, trocar ideias, perceber algo, pois assim ensinam a sabedoria. Cada criança é um ser diferenciado, com cultura diferenciada, aprendizado diferenciado, cada um com seu estilo diferente de aprender, seu modo de lembrar, de fazer, de executar e de compreender a disciplina. Há pessoas com mais facilidade de aprender e outros possuem mais dificuldade, enquanto uns aprendem rápido, outros aprendem devagar, no entanto aprendem. E o professor tem que estar atento a estes detalhes, estimulando num tempo correto. Sabendo organizar de uma maneira adequada, e como organizar e objetivar são importantes, não saindo do seu contexto, isto é, seu objetivo. Dessa forma, o professor pode acompanhar o raciocínio dos seus alunos.

Aprender números vai muito além de saber quantificar objetos, não desmerecendo é claro sua importância no cotidiano.

As noções básicas em matemática, lógica e geometria começam ser elaboradas a partir dos 4,5 anos de idade, o início do aprendizado matemático, portanto, é vital, é essencial que a base seja sólida, bem construída e bem trabalhada, para que nela se assentem os conhecimentos matemáticos futuros. A criança precisa aprender a reconhecer as diferenças e semelhanças, como por exemplo, entre um quadrado e um círculo; um círculo e uma esfera, entre outros. Trabalhando a matemática, estará se trabalhando aquilo que a criança realmente irá usar fora da escola. Não importa se ela acerta ou erra, na verdade nessa idade não há acertos ou erros uma vez que a criança está em fase de assimilação do conhecimento, portanto, não há como errar e sim, aprender, assimilar, e o conhecimento é produzido através de construções sucessivas, e quando a criança busca caminhos para encontrar respostas para os problemas, então acontece o conhecimento. Mas, é importante lembrar que estimular o raciocínio lógico-matemático é muito mais do que ensinar matemática é estimular o desenvolvimento mental, é fazer pensar.

Nesse contexto, o professor possui uma função importante que é propiciar às crianças um ambiente em que possam explorar diferentes ideias matemáticas, mas a matemática não são apenas numerais, adicionar ou subtrair o importante é trabalhar a matemática de modo que não sejam apenas ideias numéricas, mas também referentes à geometria, às medidas e às noções de estatística, de forma prazerosa e que possam compreender a matemática como fator inserido na vida: É necessário que as crianças sintam – se participantes num ambiente que tenha sentido para elas, para que possam se engajar em sua própria aprendizagem. O ambiente da sala de aula pode ser visto como uma oficina de trabalho de professores e alunos podendo transformar – se num espaço estimulante, acolhedor, de trabalho sério, organizado e alegre, ou seja, é de suma importância criar um espaço escolar para estimular a capacidade de aprender a gostar da matemática, com diversas maneiras através de brincadeiras, jogos. Brincando, jogando, cantando, ouvindo histórias, e estas ao contrário do que se pensa são riquíssimas em matemática, livros sequenciados, que falam quantidades (“Os três porquinhos”, “Branca de Neve e os sete anões”, entre outros) o aluno estabelece conexões entre seu dia a dia, seu cotidiano,a matemática, e as demais áreas. Frisando sempre que atividades no papel devem ser trabalhadas de maneira sequencial, mas não são o único meio de aprendizado na Educação Infantil, na verdade o papel deveria ser deixado de lado no quesito sequência numérica, pois há maneiras mais divertidas, prazerosas e eficazes de se trabalhar esse conteúdo.

A matemática dissociada da realidade é uma ciência isolada, sem sentido, é necessário que esta seja estimulante para que haja o aprendizado. Todo professor de Matemática deve se preocupar com os conteúdos a serem ministrados ao longo do ano letivo. Dessa forma, priorizando e proporcionando aos alunos conteúdos significativos dentro da vastidão que é o currículo referente às aulas de Matemática. Uma ideia que pode ser interessante e que despertará a atenção do aluno é quando há uma vinculação de conteúdos, isto é, ocorre uma contextualização, onde conteúdos de matemática aparecem vinculados a outras áreas, isso gera objetivos mais amplos, não se torna resolver algo por resolver, mas, portanto, cria-se uma lógica, um sentido.

O professor deve conhecer muito bem o seu papel, e conhecer melhor ainda os conteúdos a ser ministrados, isso é importantíssimo. As regras e técnicas referentes a matemática sempre devem ser contempladas, mas não podem ser as únicas formas e estratégias de ensino. A tecnologia tão atual e atrativa dá razão especial ao ensino da matemática, recursos como: computadores e tablets devem ser utilizados sempre, porém com o cuidado em relação aos seus objetivos e de acordo com a realidade do ambiente escolar. Quando o aluno é motivado por esses mecanismos ele assimila com maior facilidade os conteúdos, pois o aprender é prazeroso.

A matemática nasceu da necessidade do ser humano de contar e resolver seus problemas sociais, e isso permanece até a atualidade, mas o que temos visto é uma matemática que exclui, que não contempla toda sociedade, é claro que estamos falando sobre a educação infantil, mas, o que deve ficar claro nessa parte do pensamento é o fato de que estamos ensinando a matemática de forma a excluir pessoas, dificultar o aprendizado, e um desses fatos é a linguagem utilizada, é necessário falar a nomenclatura matemática corretamente, pois assim, o aluno será incluído nesse saber matemático tão excludente.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio:

A Aprendizagem de concepções científicas atualizadas do mundo físico e natural e o desenvolvimento de estratégias de trabalho centradas na solução de problemas é finalidade do ensino, de forma a aproximar o educando do trabalho de investigação científica e tecnológica, como atividades institucionalizadas de produção de conhecimentos, bens e serviços.

Portanto, a matemática deve utilizar elementos reais, da vivência dos estudantes, transformando esses elementos numa linguagem formal matemática, que é elemento fundamental do saber.

Mesmo o professor da Educação infantil deve ter conhecimento desse tipo de informação, pois, caso a necessidade do uso de uma nomenclatura surja ele saberá se posicionar em relação a isso, visto que nessa etapa da vida criança (Educação Infantil), a criança aprende com maior facilidade absorvendo tudo a sua volta.

É estritamente necessário o uso da nomenclatura matemática, ao contrário do que se pensava, anteriormente, esse pode ser um fator que gera dificuldades de aprendizagem, pois, quando digo que, por exemplo, iremos fazer uma “continha de mais” ou, vamos “juntar” mais palitos, posteriormente num enunciado digo que teremos que fazer uma “adição”, a interpretação do enunciado fica deficitária, fica incoerente, sem contextualização. A memorização dessa nomenclatura é usual na vida diária, e fator de aprendizagem Matemática, segundo Markarian, 1998 “O aprendizado da Matemática depende muito de símbolos próprios e específicos, isso pode a tornar menos acessível”. (Markarian, 1998)

Sendo que para Sanches, 2004“A linguagem e a terminologia utilizadas, que são precisas, exigem uma capacitação, nem sempre avançada, dos alunos, não só do significado como da ordem e da estrutura que se desenvolvem (Saches 20004)”.

Os signos matemáticos adquirem vida, em sua estrutura, e que muitas vezes, para os alunos são “abstratos e sem sentido”, uma vez que esse tipo de linguagem é diferente da linguagem usal, se torna, assim, uma linguagem técnica matemática. A linguagem em si não motiva, mas os professores insistem numa abordagem formal nos alunos da disciplina, nenhum aluno é despertado por algo que seja motivo de insatisfação, ou não desperte sua curiosidade.

Os elementos referentes à linguagem matemática bem assimilados e sistematizados em outras áreas do conhecimento são ferramentas de comunicação e sistematização fundamentais, que deixa rica a capacidade de transmissão, facilita o modo de pensar, ajuda a descobrir o fator problema, esclarece a apresentação de ideias e evita rodeios na descrição de situações.

A matemática está presente em vários elementos sociais, por esse motivo ela está inserida na escola, a escola deve suprir as necessidades sociais uma vez que formamos na escola cidadãos que fazem parte da sociedade.

A tarefa do ensino é tornar a matemática uma ligação viva entre a relação matemática-aluno de forma contextualizada, favorecendo dessa forma o conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se considerar, portanto, que a matemática é parte integrante da vida do homem e deve ser trabalhada inicialmente desde a infância uma vez que se trata de algo vital e essencial a vida social humana.

Sendo assim a matemática deve ser estimulada precocemente, porém de maneira lúdica e mais essencial ainda de maneira contextualizada e atrativa; com o auxílio de jogos bem objetivados e contextualizados pelo professor a Matemática se torna lúdica, atrativa, e ainda simplifica a aquisição do conhecimento; os jogos são uma das chaves para aprendizagem, uma vez que eles atingem praticamente todos os alunos em sua diversidade social, cultural e intelectual.

Para finalizar, vale a pena ressaltar que o bem mais precioso no trabalho matemáticos são os jogos, as brincadeiras, cantigas e todo o encantamento presente nos mesmos, o desafio, o fazer pensar, o refletir, andam lado a lado com o professor na busca da aprendizagem, este, mediador, auxiliador do conhecimento.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v. III. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Secretaria de Educação Média e Tecnológica, Brasília: MEC/SEMT, 1999.

CAMARGO, Paulo. Quando o Problema não é o Aluno, 2003. Disponível em:<http://www.intervox.nce.ufrj.br/alunopro.htm>. Acesso 25 de out 2018.

CARVALHO, Paulo Cezar Pinto. Fazer Matemática e usar Matemática. Salto para o futuro. Série Matemática não é problema. Disponível em:<http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2005/boletins2005.htm> Acesso em: 25 out 2018.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

KAMII, Constance. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget para a atuação com escolares de 4 a 6 anos. Campinas: Papirus, 1990.

PAROLIN, Isabel Cristina H.; SALVADOR, Lia Helena Schaeffer. Odeio matemática: um olhar psicopedagógico para o ensino da matemática e suas articulações sociais. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, n. 59, p. 31-42, 2002.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.

[1] Geógrafa, Pedagoga e pós em: Educação Especial, Geografia e Libras. Professora.

[2] Pedagoga com pós em: Metodologia em Educação Infantil e series inicias do Ensino Fundamental. Professora

[3] Pedagoga, com pós em; Educação Especial, Psicopedagogia e Educação para a Infância e anos iniciais do Ensino Fundamental. Professora

[4] Pedagoga, pós em: Educação para a infância, Educação Especial e Neuropedagogia. Professora

[5] Pedagoga com pós em: educação Especial e dificuldade de aprendizagem. Professora

[6] Pedagoga, com pós em: Educação Infantil e series iniciais e Educação Especial. Professora

[7] Pedagoga com pós em: Educação Infantil e series inicias do Ensino Fundamental e Educação Especial. professora

Enviado: Outubro, 2018

Aprovado: Outubro, 2018

 

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