Textos
literários: o texto narrativo
Textos
literários: o texto narrativo As primeiras produções literárias tiveram origem
na oralidade. A literatura oral é denominada oratura. São vários os géneros da
oratura, nomeadamente contos, fábulas, mitos, lendas, histórias enigmáticas,
poesias, provérbios, ditados, anedotas e adivinhas, entre outros. Com a
invenção da escrita, muitas produções literárias orais passaram à escrita.
Trazemos-te, nesta unidade didáctica, o estudo da
literatura a partir das suas formas orais. É importante também ficares a
conhecer a evolução etimológica do termo «literatura».
Evolução
histórica e semântica do termo «literatura»
O termo literatura deriva historica- mente, por via
erudita, da palavra latina litteratura.
Na língua portuguesa, encontramos documentado o
termo literatura, pela primeira vez, num texto datado de 21 de Março de 1510.
O termo complexo literatura signifi- cou o saber
relativo à arte de escrever e ler, gramática, instrução e erudição. Nas
diversas línguas europeias, até ao século XVII, o conteúdo semântico de 01
literatura dizia respeito ao saber e à ciência, em geral.
Na segunda metade do século XVII, o conceito
literatura apresenta uma profunda evolução semântica, em estreita conexão com
as transformações da cultura europeia nesse período histórico. Subsistem no seu
uso, por força da tradição linguística e cultural, os significados já
mencionados, mas manifestam-se também, em correlação com aquelas
transformações, novos conteúdos semânticos, que divergem dos anteriormente
vigentes e que divergem também entre si.
O conhecimento representado pela literatura, quando
diz respeito a objectos caracterizados pela beleza, como a poesia, a eloquência,
«a história bem escrita», toma o nome de belle littérature, não cabendo tal
como designação, porém, à simples crítica nem à cronologia, já que tais
actividades, bem como os escritos dela resul- tantes, carecem de beleza. Se a
denominação de belle littérature implica, por conseguinte, a existência de
valores estéticos, a simples denominação de literatura implica a relação com as
letras, com a arte de expressão através da linguagem verbal e, por isso mesmo,
Voltaire não considera como pertencentes à literatura aquelas obras que se
ocupam da pintura, da arquitectura ou da música.
Num texto de Diderot, escrito em 1751, a literatura
é consi- derada uma arte e também um conjunto de manifestações dessa arte, isto
é, um conjunto de textos que se singularizam pela presença de determinados
valores estéticos.
Este texto de Diderot docu- menta, pois, dois novos
e importantes significados com que o termo literatura será cres- centemente
utilizado a partir da segunda metade do século XVIII: especifico fenómeno
estético, específica forma de produção, de expressão e de comunicação artistica
O termo literatura passou a significar também o
conjunto da produção literária de um determinado país, tornando-se óbvias as
implicações filosófico-políticas do conceito literatura nacional: cada país
possuiria uma literatura com carac- 45 terísticas próprias, uma literatura que
seria expressão do espírito nacional e que constituiria, por conseguinte, um
dos factores relevantes a ter em conta para se caracterizar a natureza peculiar
de cada nação, Designações como literatura alemã, literatura francesa,
italiana, etc., foram-se tornando de uso frequente a partir das últimas três
décadas do século XVIII.
Oratura
vs. literatura
A literatura sob a forma escrita tem base oral. Isto
significa que as primeiras mani- festações artísticas surgiram por via oral,
pois a oralidade é mais antiga e o Homem sempre teve necessidade de exprimir
sentimentos.relatar eventos e retratar realidades através da arte (cantos,
poesia, dramas e histórias orais).
O meio de transmissão oral é menos seguro do que o
meio escrito. A literatura oral (ou, simplesmente, oratura) varia à medida que
passa de um transmissor para outro. Como diz o ditado: «Quem conta um conto,
acrescenta um ponto.» O contador de histórias orais é criativo, pois, muitas
vezes, recria a história que ouviu, adequan- do-a à realidade que o envolve.
Contudo, isso não implica a perda da essência do que conta. As adaptações nas
produções orais não acontecem só pelo simples interesse recreativo ou
contextual; também são, muitas vezes, condicionadas pelo esqueci- mento. Por
outras palavras, a falha da memória, isto é, o esquecimento da história pelo
contador, obriga-o a inventar certas passagens.
Os géneros da oratura são guardados na memória das
pessoas e transmitidos de geração em geração. A literatura escrita é fixa,
imutável, quando não for viciada. O código escrito asse- gura a integridade
textual, não permitindo recriação por parte do leitor. Contudo, a oratura é
mais viva. Tal vivacidade é legada pelo narrador, através da entoação da Voz,
dos gestos e das expressões faciais.
A escrita procura traduzir as expressões acentuadas
do discurso oral através da pontuação [exclamação (!);reticências (...);
interjeições (Ah!, Ui!);mudança tipográfica (O patrão disse: - SAI!);
onomatopeias (zzzz., booom...)] e de outros recursos.
Em síntese:
|
Literatura
oral |
Literatura
escrita |
Composição |
Na
memoria |
No
papel |
Transmissão |
Oral
(de uma pessoa a outra) |
escrita
( papel ao leitor) |
Autor |
Desconhecido |
Identificado
|
codigo |
Misto
(palavras, gestos, imagens…) |
Verbal
(escrita) |
conteudo |
sujeito
a mudancas |
Inalteravel;
fixo |
A literatura oral é anterior à escrita. Assume-se
como um património cultural, na medida em que é transmissora de conhecimentos,
ensinamentos e valores. Está sujeita a alterações (a memória do contador ou o
local/situação em que é realizada são motivos que a isso conduzem). Ultrapassa
o problema do analfabetismo, pois pode ser consu- mida por todos. Surge-nos em
forma de contos, fábulas, provérbios, adivinhas.
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