segunda-feira, 5 de outubro de 2020

As novas tendências da gestão pública e governança interativa em Moçambique

 

As novas tendências da gestão pública e governança interativa em Moçambique

As mudanças introduzidas no quadro da implementação da Estratégia Global da Reforma do Setor Público (EGRSP, 2001-11) a partir do ano de 2001 possuem diferenças significativas quando comparadas às reformas administrativas realizadas anteriormente. No bojo da EGRSP estão as concepções que apregoam medidas reformistas na componente de administração do Estado e nos processos de gestão pública, de modo a responder aos desafios impostos pela necessidade de modernização administrativa e criação de processos e estruturas organizativas adaptadas à gestão pública contemporânea.

Aliás, a análise dos pressupostos e princípios dessa reforma (Ciresp, 2001) mostra que estão embasados nas doutrinas da Nova Gestão Pública (NGP), que alegam, por um lado, a necessidade de modernização dos processos de gestão por meio da implementação de novas concepções acerca do funcionamento da administração pública de modo a promover maior eficiência e eficácia das ações governativas e elevação do desempenho das instituições do Estado. Por outro, fundamentam-se nas concepções da Governança Interativa (GI), pois assinalam a importância da adoção de novas práticas de gestão tais como accountability, transparência, participação e responsabilização na atuação dos organismos estatais.

Algumas medidas reformistas, como mostra a última coluna do quadro acima, comprovam essa tendência de replicar doutrinas, princípios e práticas da NGP do NSP e da GI no contexto moçambicano. A partir de 2001 foram criados mecanismos administrativos para garantir a disciplina fiscal, casos da Unidade Técnica de Reforma da Administração Financeira do Estado (Utrafe) e do Sistema de Administração Financeira do Estado (Sistafe). Estes se constituíram nas grandes inovações relativamente à forma de organização e gestão de recursos financeiros públicos e visam a elevação da eficiência administrativa. Na mesma vertente, de forma mais intensa, a partir de 2006 as instituições públicas em todos os níveis (central, provincial, distrital e dos municípios) passaram a ser gerenciadas e avaliadas através de indicadores de desempenho que privilegiam o alinhamento entre os principais instrumentos de governança no setor público, o Plano Econômico e Social (PES) e o Orçamento do Estado (OE).

O PES e o OE incorporam uma nova lógica e visão de planejamento e execução, mas também de prestação de serviços à sociedade dado que privilegiam a gestão por resultados, a imposição de uma cultura de responsabilização dentro da administração pública, bem como a entrada de novos atores no processo de gestão das políticas públicas mediante a criação de parcerias público-privadas. Nessa perspectiva, a tônica da agenda recente de reforma assemelha-se às concepções da GI, visto que coloca seu foco para as questões relacionadas com as reformas institucionais e administrativas propondo que se dê maior atenção ao modo como se efetivam as interações entre o Estado e as demais organizações da sociedade civil.

Como é assinalado pelo Novo Serviço Público (NSP), na EGRSP defende-se maior acesso dos grupos de interesse ao processo da governança no setor público, encarada, nessa perspectiva, como um mecanismo que permite a atuação da administração pública de forma mais participativa e coordenada. Formula-se que novos agentes provenientes do setor privado assim como da sociedade civil são vistos como atores que devem interagir com maior frequência com o Estado e suas instituições, reduzindo as fronteiras existentes de modo a elevar a participação pública no processo de formação e tomada de decisão das políticas públicas.

Note-se que o caráter das medidas administrativas descritas aproxima-se das concepções propostas pela GI em que, por um lado, a questão de fundo é a modernização da gestão sustentada pela criação das bases para a construção de um serviço público que atende as demandas e expectativas da sociedade e, por outro, trata-se de um serviço voltado à elevação da capacidade da ação governativa do Estado para a implementação de políticas públicas. Essa tendência é atestada pelas mudanças que se pretende induzir nos valores e comportamentos dos funcionários, na cultura administrativa, nas competências e responsabilidades dos organismos públicos, na coordenação institucional e na fiscalização das formas de atuação da administração pública.

Desse modo, pode-se afirmar que a nova abordagem da reforma da administração pública sugere a introdução de um sistema administrativo caracterizado por um novo paradigma pós-burocrático, segundo a perspectiva de O'flynn (2007), dentro da gestão pública em Moçambique, no qual são construídos novos valores e uma nova consciência. Porém, apesar de os apontamentos apresentados indicarem uma tendência positiva na introdução de novas práticas e princípios de gestão no contexto nacional, importa realçar que as mudanças originadas pela reforma administrativa também vieram, na prática, colocar novos problemas relacionados com os objetivos de eficiência e da participação efetiva da sociedade na gestão das políticas públicas.

A questão que pode ser colocada é: como garantir uma gestão pública eficiente e baseada em processos de participação e avaliação efetiva por parte da sociedade? Argumenta-se que, na adoção dos princípios do NGP e da GI, devem ser consideradas as limitações impostas pelos próprios modelos, uma vez que, por exemplo, a complexidade e a dinâmica da gestão por objetivos encerram dois tipos de limitações: o primeiro tem a ver com a complexidade das atividades e a definição das políticas públicas no nível local e o segundo está relacionado com as limitações que as pessoas têm para lidar com informação e sistemas formais de avaliação de resultados.

Como referem King, Feltey e Susel (1998), a participação autêntica ou efetiva implica mais que simplesmente encontrar as ferramentas e técnicas para aumentar o envolvimento da sociedade nas decisões do setor público. A participação autêntica, asseveram esses autores, é a que funciona para todas as partes e estimula o interesse e investimento em ambos os atores públicos e os cidadãos, e exige que sejam repensados os papéis subjacentes e as relações entre os entes públicos e os cidadãos. Verifica-se, portanto, que a nova configuração das estruturas organizacionais da administração pública dá lugar a uma nova lógica diferente de ação. No nível das províncias, distritos e municípios em Moçambique, o novo modelo e a nova lógica administrativa conferem à gestão dos serviços e interesses públicos uma determinada liberdade para decidir sobre como obter elevados níveis de desempenho.

A implementação da EGRSP tem estado a decorrer com base na inspiração do que o NSP explicitado por Denhardt e Denhardt (2000:555) considera ser uma gestão construída coletivamente, isto é, em que são partilhados interesses e responsabilidades baseados na deliberação conjunta, onde o Estado promove a articulação e o interesse público, justiça e a equidade. Portanto, as políticas públicas têm estado a ser vistas como um complexo resultado dos interesses de vários grupos, opiniões e interesses. Nesse novo contexto de relações, o papel do governo tem estado a transformar-se, tornando-se um ator não exclusivo que controla a sociedade e oferece serviços, mas que agrega, negocia e facilita, busca soluções com outros atores privados e a sociedade civil.

Na realidade, as mudanças que se verificam estão sendo acompanhadas de alterações significativas, nomeadamente, as mudanças nos valores e comportamentos dos funcionários, na cultura administrativa, nas competências e responsabilidades dos organismos públicos, na forma de atuação, relacionamento e de coordenação institucional entre as esferas governamentais (por exemplo, a aprovação da Lei no 8/2003, de 19 de maio, possibilitou a atribuição de competências exclusivas para os órgãos locais, eliminando de certa forma os problemas da dupla subordinação). Este último aspecto transformou uma vez mais a tradicional função pública de extrema dependência hierárquica e falta de autonomia das unidades administrativas locais, para uma gestão pública coordenada e interdependente.

A implementação, por exemplo, do Decreto no 5/2006, de 12 de abril, sobre a desconcentração de competências para o governador provincial e administrador distrital promoveu novas práticas de contratação para os quadros de pessoal em nível local concretizando, assim, a ideia da profissionalização dentro de um sistema de carreiras que obedece a tabelas salariais e a esquemas de promoção próprios. Por sua vez, a implementação do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (Egfae) em 2009 pela Lei no 14/2009, de 17 de março, permitiu proceder a uma gestão de recursos humanos a partir de mecanismos modernos e de técnicas de avaliação de desempenho.

O Sistema de Gestão de Desempenho na Administração Pública Moçambicana (Sigedap) foi aprovado em 2009 pelo Decreto no 55/2009, de 12 de outubro, com vista a aperfeiçoar a gestão determinada por objetivos, orientada para resultados e dotada de instrumentos de gestão necessários para atuar e responsabilizar, motivando as lideranças, os funcionários e agentes do Estado para um desempenho de qualidade e reconhecendo o mérito e a excelência.

Contudo, as metas de eficiência e do alcance de resultados se apresentam como uma questão crítica no processo da reforma administrativa em Moçambique, por um lado, porque a pressão por resultados pode degenerar numa situação instrumental comparável à administração científica tayloriana, uma vez que transforma o espírito e a cultura de trabalho dos funcionários e agentes do Estado, relacionando o seu desempenho às recompensas, desintegrando os valores fundamentais do setor público como a integridade e o comprometimento com o interesse público. Por outro, a análise dos objetivos da avaliação do desempenho estabelecidos no modelo do Sigedap mostra que a fixação de objetivos, a rigidez para o seu cumprimento, bem como a necessidade de responder aos indicadores fixados podem arrastar o sistema administrativo à inflexibilidade típica do modelo de administração burocrática.

O contexto atual do funcionamento da administração pública em Moçambique faz ressaltar uma nova visão do serviço público como resultado das pressões impostas pelo novo paradigma da GI. A observação da realidade mostra, por exemplo, o novo processo de contratação e oferecimento de bens e serviços implantado pelo Decreto n o 15/2010, de 25 de maio, em que a racionalidade na gestão dos recursos e a flexibilidade organizacional exigem que o papel e as qualidades do gestor público estejam alinhados com a perspectiva de um administrador operativo mais voltado para a definição de estratégias.

A perspectiva é a de que essas estratégias de gestão pública devem vincular suas tarefas com os princípios de monitoria e avaliação do cumprimento, por exemplo, dos contratos e programas estabelecidos, o que mostra que não será suficiente no novo contexto da administração pública uma atuação baseada na padronização e regras do modelo burocrático para conseguir o cumprimento dos objetivos organizacionais pretendidos na gestão. Para o efeito, o setor público deve abrir-se para as influências positivas do seu exterior, interagindo com os cidadãos de forma singular ou coletiva no intuito da construção de processos de tomada de decisão mais participativos. Compreende-se que se deve tomar os cidadãos como o fundamento e a razão da administração pública.

Na afirmação de Hughes (2010), o setor público deve-se mover na esteira de uma administração pública moderna em que são estabelecidas a todo o momento ligações horizontais e verticais que melhoram a participação tanto de organizações públicas, privadas lucrativas e sem fins lucrativos e voluntários, ao mesmo tempo que criam novas formas de organização e de estruturação das suas instituições para a resolução dos problemas das comunidades.

8. Considerações finais

A introdução dos considerados renovados modelos de gestão a partir da década de 1980, designadamente da Nova Gestão Pública (NGP), do Novo Serviço Público (NSP) e a aplicação de práticas de Governança Interactiva (GI), abalou de forma profunda as estruturas da administração pública tradicional e tem confrontado os vários governos a procederem reformas administrativas que fazem emergir novas configurações institucionais, cujo propósito é responder de forma mais adequada às demandas do processo de prestação de serviços públicos e das solicitações das comunidades.

Da revisão da literatura efetuada algumas conclusões sobre a dinâmica das transformações que têm sido efetuadas podem ser destacadas. Existem diferenças no enfoque e intensidade das reformas administrativas realizadas em diferentes contextos nacionais sob a influência das concepções associadas à NGP. Apesar de a NGP se preocupar com o desempenho, a elevação dos resultados e a melhoria na qualidade de serviços públicos, as ações desenvolvidas nas reformas dos diferentes países não são unívocas uma vez que as reformas administrativas dependeram ou dependem de prioridades, circunstâncias e pontos de partida particulares de cada país.

Particularmente, com seu enfoque inspirado nas técnicas gerenciais do setor privado, a NGP não priorizou os aspectos democráticos e de accountability ao limitar a participação dos "cidadãos considerados clientes" ao controle dos serviços, sem constituir mecanismos de integração da sociedade nas políticas públicas. Mas, embora possam ser feitas essas críticas, sobretudo pelo designado NSP, compreende-se que alguns princípios e práticas de gestão trazidos pela NGP permanecem atualmente, tais como a preocupação com os resultados, a garantia de eficiência e efetividade das políticas públicas.

Quanto ao contexto moçambicano, as novas práticas de gestão pública orientadas para a elevação da GI ganharam maior centralidade no início da década de 2000, com o surgimento da reforma administrativa traduzida pela Estratégia Global de Reforma do Setor Público (EGRSP), que visa a modernização do setor público. Essas reformas focalizam a implementação de novas práticas de gestão para melhorar a eficiência, a efetividade, o controle, a participação pública e boa governança no setor público em todos os níveis, central, provincial, distrital e dos municípios.

Contudo, a apreciação dos pressupostos e práticas que têm estado a ser adotadas indica que a implementação dessa reforma tem sido marcada por algumas limitações de natureza estrutural e funcional que são, na prática, impostas pelo próprio modelo adotado. Os grandes dilemas se colocam em relação às metas de eficiência e ao alcance de resultados e processos participativos.

Finalmente, para que os objetivos da criação de um novo serviço público modernizado e interativo sejam alcançados de forma efetiva, torna-se fundamental que a administração pública nacional encare esse desafio sob o prisma da aplicação de padrões de gestão que sugerem maior transparência, participação pública, prestação de contas e com uma preocupação constante em atender aos anseios e às necessidades da sociedade com maior qualidade.

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O trabalho terá como tema Análise do Impacto dos Projectos Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital do Desenvolvimento Socioeconómico Local: Caso do distrito da cidade de Inhambane 2015-2017.

 

1.Tema:

O trabalho terá como tema Análise do Impacto dos Projectos Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital do Desenvolvimento Socioeconómico Local: Caso do distrito da cidade de Inhambane 2015-2017.

1.1.Delimitação do Tema no Tempo e no Espaço

A análise a ser feita, será destinada há uma parcela dos munícipes da Cidade de Inhambane, acerca da percepção na participação económica para a melhoria das suas condições de vida. O estudo concentrar-se-á na Província de Inhambane concretamente no distrito da cidade de Inhambane.

A escolha deste horizonte temporal é pelo facto de ter dados relativos ao período de 2014, e pelo facto dos munícipes terem feito o pedido do valor para investimento local e não fazerem a devolução segundo o chefe interno do departamento de investimento e financiamento externo em Inhambane.

Em relação a escolha do ano 2017 é pelo facto de começar a se fazer sentir o desenvolvimento de alguns projectos e reembolso dos mesmos. 

 

 2.Contextualização

Em Abril de 2001 o Governo de Moçambique aprovou o Plano de Redução da Pobreza Absoluta (PARPA-I) que vigorou entre 2001-2005. Em Maio de 2006 o Conselho de Ministro (CM)[1]Aprovou o Plano de Acção para a redução da Pobreza Absoluta, 2006-2009 (PARPA-II) (Brito, 2012:25, citado por Cumbe 2016: 05).

 

Em 2006, o Governo de Moçambique introduziu o OIIL, popularmente conhecido por “7 Milhões”, para contribuir para a redução da pobreza através do financiamento de projectos de produção de comida, de geração de emprego e de renda (Sande, 2011:207).

 

Em finais de 2009, o OIIL foi transformado em FDD com personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira, gerido localmente. O FDD é tutelado pelo Governador provincial que homologa os planos e relatórios de actividades, autoriza a recepção de donativos, abertura e contas e realiza inspecções regulares. A execução das actividades do FDD é da responsabilidade do Conselho Consultivo Distrital (CCD)[2].

 

Segundo Canhanga (2001:189), a constatação do fracasso e incapacidade do Estado centralizador em promover o desenvolvimento socioeconómico e a modernização politica, funcionou como catalisador para realçar a questão da descentralização. O modelo centralizador da administração e o carácter marcadamente intervencionista do Estado acabaram por ter efeitos contraproducentes na sociedade e na administração pública moçambicana, levando a uma certa letargia politica, a diferenças regionais cada vez mais acentuada, ao regionalismo, a paralisação da administração que em algumas zonas do país, era incapaz de prestar mesmo os serviços mais básicos, ao subdesenvolvimento, a evasão fiscal e, em última análise ao descrédito, senão mesmo perda de legitimidade do Estado, (Ibid).

Neste contexto, as reformas levadas a cabo no âmbito da governação local e descentralização pelo governo moçambicano visavam principalmente, aproximar o governo dos cidadãos, garantido a sua participação e inclusão nos processos governativos e, consequentemente a provisão de bens e serviços de forma eficiente, eficaz e de acordo com as preferências dos cidadãos (Ibid).

 

Segundo Faria (2011), Distrito é a base do planeamento do desenvolvimento económico, social e cultural do país, o que fundamenta a necessidade de que todas as acções de desenvolvimento, programadas a qualquer nível, devem realizar-se no território do Distrito, ou seja nos Distritos onde o processo de planeamento deve integrar acções e actividade que respondendo as medidas e políticas definidas, resolvam as preocupações concretas da população local. Para efeito, existem os OLE’s cuja função é representar o Estado ao nível local para administrar o processo de desenvolvimento do respectivo Distrito e contribuir para unidade e integração nacional. 

 

Valá (2009) afirma que como resultado do conhecimento da importância e necessidade de se desenvolver o Distrito, produziu-se uma série de legislação, nomeadamente a OLE, Lei dos Órgãos Locais do Estado, 10 de Maio (BR, 2003; o RELOLE- Regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado, de 10 de Junho (BR, 2005); e o Decreto nº6/2006, que aprova a Estrutura Orgânica do Governo Distrital e o seu Estatuto Orgânico (BR, 2006). Esta legislação deu corpo ao processo de reformas politicas e administrativas no âmbito da descentralização.

Portanto, Valá (2009), esclarece que as aludidas reformas resultaram num sistema de governação local que contribui maiores competências aos distritos e aos órgãos hierarquicamente subordinados e dela constituídos mera extensão, mecanismo administrativo visando aproximar a prestação de serviços dos seus beneficiários.

Por seu turno, o PQG[3] (2010-2014),refere que os Governos Distritais enquadram-se no processo de organização administrativa, que com as reformas do Estado deram origem ao processo de descentralização político-administrativa, valorização da organização social das comunidades e aperfeiçoamento das condições da sua participação na administração pública para o desenvolvimento socioeconómico e cultural do país.

 

Deste modo, é neste contexto dos esforços do Governo moçambicano em tornar o distrito a base de desenvolvimento que se enquadra o presente trabalho, particularmente no âmbito da institucionalização do FDD, que tem em vista contribuir para a redução da pobreza através do financiamento de projectos a nível do distrito, como a produção de comida, geração de emprego e de renda.

 

2.      Justificativa

A escolha do tema em análise é pelo facto de ser um tema actual, e também pelo facto de aprofundar os conhecimentos em torno de acesso ao FDD e por saber que o FDD é importante para o combate a pobreza através do funcionamento de iniciativas de produção de comida, geração de rendimento e criação de emprego a nível dos distritos, desta forma contribuindo para o desenvolvimento do país como um todo. E ajudar os Munícipes e o Governo naquilo que concerne a flexibilidade da gestão orçamental e facilitar os mecanismos de transferências dos recursos do Estado para o benefício das comunidades.

Numa altura em que esta a ser questionada a forma como os “7 milhões” de meticais estão a ser “distribuídos”, importa do impacto dos projectos financiados pelo FDD. É importante também fazer um estudo no local neste caso no distrito onde o Estado considera como polo de desenvolvimento do país alocando anualmente “7 milhões” de meticais.

      Este estudo será pertinente concretamente aos munícipes do distrito da cidade de Inhambane, para o desenvolvimento socioeconómico e na transparência da gestão, no critério de acesso ao FDD.

4. Problematização

O Governo de Moçambique através da Lei nº12/2005, de 23 de Dezembro (BR 2005), que aprovou o Orçamento do Estado (OE)[4]Para o ano 2006, cria o OIIL, hoje conhecido popularmente por FDD.

De acordo com o nº1 do artigo 4 do Decreto nº90/2009 de 15 de Dezembro (BR 2009), constitui um dos objectivos do FDD financiar acções que visam estimular o empreendedorismo, a nível local, de pessoas pobres mas economicamente activas.

A expectativa inicial da maioria da população era de que os sete milhões fossem alocados aos projectos de infra-estruturas locais, (salas de aulas, fontes de agua, pequenas pontes).

Desde então, os fundos deviam ser usados para estimular as actividades económicas directamente, através da inserção de dinheiro em projectos. Os beneficiários de projectos receberiam financiamento em forma de empréstimo com implicação de que um fundo rotativo seria criado nos distritos a medida que os doadores fossem reembolsados o valor.

De acordo com Ramos 1998, citado por Fórum (2002:41), os projectos tem numerosas vicissitudes ao longo das suas fases de preparação e execução, acabando por originar resultados insatisfatórios, tais como, dilatação dos prazos, custos superiores aos orçamentados, incumprimento das especificações. Uma gestão correcta dos projectos, ainda que não permitia garantir que todos alcancem plenamente os seus objectivos, deve na maior parte dos casos, fazer com que os resultados da operação sejam semelhantes aos desejados. Contudo, se os projectos nos deixam insatisfeitos por não conseguirem uma gestão de acordo com métodos e técnicas especialmente adaptadas e cada caso temos que fazer uma análise daí que surge a seguinte questão: Qual é o Impacto dos Projectos Financiados pelo FDD no Desenvolvimento Socioeconómico Local.

 

5. Objectivo da Pesquisa

5.1. Objectivo Geral

Ø  Analisar o Impacto dos Projectos Financiados pelo FDD no Desenvolvimento Socioeconómico Local.

 

5.2. Objectivos específicos

Ø  Identificar a situação de pagamentos dos beneficiários e as suas causas.

Ø  Avaliar o impacto do FDD no desenvolvimento do distrito da cidade de Inhambane.

Ø  Descrever a situação real do FDD a nível distrital.

 

6. Questões de pesquisa

Ø  Quais são os critérios de elegibilidade dos beneficiários do FDD no distrito da cidade de Inhambane?

Ø  Quais são os critérios de elegibilidade de projectos financiáveis pelo FDD de Inhambane?

Ø  Qual é o impacto FDD no desenvolvimento distrito da cidade de Inhambane.

 

7. Hipóteses

Ø  O processo de elegibilidade dos beneficiários do FDD no distrito de Inhambane não obedece os critérios estabelecidos pelo Governo;

Ø  O processo de elegibilidade de projectos financiáveis pelo FDD no distrito de Inhambane não obedece os critérios estabelecidos pelo Governo;

Ø  O impacto do FDD no desenvolvimento do distrito é positivo.

 

8. Metodologia do trabalho

No entender de Nérici (1978:15), a metodologia é o conjunto coerente de procedimentos racionais ou práticos-racionais que orientam o pensamento para serem alcançados conhecimentos válidos. A realização de qualquer pesquisa pressupõe a estruturação de um método a fim de guiar os passos do pesquisador e possibilitar a sua replicação quando conveniente. Assim, o projecto metodológico deve ser cuidadosamente pensado e baseado na natureza do problema, objecto de estudo e nas características da pesquisa a ser realizada.

Salomon (1992:10), define metodologia como sendo o interesse por princípios e técnicas suficientemente gerais para se tornarem comuns a todas as ciências ou a uma significativa parte delas. Alternativamente são princípios filosóficos ou lógicos suficientemente especificam para que em ordem poderem estar particularmente relacionados com a ciência, distinguida de outros afazeres humanos. Os dois conceitos são de difícil distinção, pois estão entrelaçados e que a metodologia envolve o método e o método é a maneira, a forma que o cientista escolhe para ampliar o conhecimento sobre determinado objecto, facto ou fenómeno de acordo com GILL (1999).

Na metodologia descrevem-se os procedimentos a serem seguidos na realização da pesquisa, sua organização varia de acordo com as peculiaridades de cada pesquisa. Requer-se, no entanto, a apresentação de informações acerca de alguns aspectos, como os que são apresentados a seguir: tipo de pesquisa; população e amostra; colecta de dados; análise dos dados (Gil, 2002:162-163).

 

8.1. Método de procedimento

Método constitui um conjunto de regras uteis para a pesquisa, que permitem ao estudante ou pesquisador ter mais claro as bases logicas da sua pesquisa (Lundin, 2016:123).

Método monográfico: consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações. O estudo monográfico pode, também abranger o conjunto das actividades de um grupo social particular. (Andrade, 2006:134).

Método monográfico foi útil para o presente trabalho, pois através dele buscou-se analisar diferentes indivíduos e associações de forma representativos de modo a trazer resultados generalizados.

Método hipotético-dedutivo: Consiste na adopção da seguinte linha de raciocínio: “quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para explicação de um fenómeno, surge o problema. Para tentar explicar a dificuldades expressas no problema, são formuladas conjecturadas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derruba-la” (GIL, 1999[5], citado por Silva e Menezes, 2001:27). E neste trabalho este método será usado em paralelo com método monográfico.

8.2. Quanto á natureza

Pesquisa aplicada objectiva gera conhecimentos para aplicação prática e dirigidos a solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesse locais (Menezes e Lúcia da Silva, 2001:20).

O trabalho basear-se-á na pesquisa aplicada porque identificou-se um problema dos projectos financiados pelo FDD no desenvolvimento socioeconómico, este método permitiu ao pesquisador encontrar possíveis soluções aplicáveis a resolução do problema identificado no distrito da cidade de Inhambane no que diz respeito aos projectos financiados pelo FDD.

8.3. Quanto aos objectivos

Tem normalmente, a forma de um trabalho piloto e visa aprofundar o conhecimento do pesquisador sobre o contexto onde o problema prevalece. Visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vista a torna-lo (mais) explícito, antes do trabalho propriamente dito ter lugar; serve também para construir hipóteses para aborda-lo. Este tipo de pesquisa implica normalmente um levantamento bibliográfico; entrevistas preliminares com pessoas, exemplos semelhantes que estimulem a maior compreensão do problema pelo pesquisador, etc. quanto aos objectivos a pesquisa assumem, normalmente, as formas de pesquisa bibliográfica e estudos de caso (Lundin, 2016:121).

A pesquisa exploratória permitiu ao pesquisador, ter maior familiaridade com os projectos financiados pelo FDD para o desenvolvimento socioeconómico, ou seja com o tema em análise.

8.4. Quanto á forma de abordagem

Pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e subjectivo do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem (Menezes e Silva, 2001:20).

Esta abordagem permitiu ao pesquisador explicar os projectos financiados pelo FDD para o desenvolvimento socioeconómico do distrito da cidade de Inhambane.

8.5. Procedimentos técnicos e técnicas de recolha de dados

Quanto aos procedimentos técnicos para a recolha de dados para o presente trabalho, o pesquisador privilegio os seguintes: Pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, a entrevista e o questionário.

a)      Pesquisa Documental: Apesquisa documental assemelha-se á pesquisa bibliográfica.

É elaborada a partir de material escrito, fontes primárias que ainda não receberam um tratamento analítico. A consulta a fontes primárias, como o recenseamento, documentos políticos administrativos, são exemplos de pesquisa documental (Lundin, 2016: 122).

Esta técnica permitiu ao pesquisador de fazer a recolha de relatórios sobre projectos financiados pelo FDD no distrito da cidade de Inhambane.

b)     Pesquisa bibliográfica: Pesquisa bibliográfica trata-se do levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas científicas, publicações avulsas,

Imprensa escrita, periódicos, tralhos científicos (Andrade, 2006:56).

 

c)      Entrevista: consiste num encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas obtenha informações sobre um determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional (Marconi e Lakatos, 2007:197).

O uso da técnica de entrevista consistiu na entrevista de membros dos CCs e do Fórum Local, mutuário do FDD, e por fim, esta técnica permitiu ao pesquisador colher opiniões de residentes do distrito da cidade de Inhambane em torno do desenvolvimento socioeconómico dos projectos do FDD.

 

 

9.Referencial Teórico

Teoria é um conhecimento mais amplo de factos ou relação entre factos. Diz respeito a forma de organizar os factos, explicando-os, estabelecendo relações sobre a forma de serem utilizados para previsão da realidade. Consiste na ordenação significativa dos factos, traduzidos em conceitos, princípios, leis, classificações, correlações, teoremas (Carvalho, 2009:10, citando Jacquard,1997).

O presente trabalho privilegiar-se-á na Teoria do Desenvolvimento Endógeno.

 

 

9.1. Teoria de Desenvolvimento Endógeno

Do ponto de vista espacial ou regional, o conceito de desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo interno de ampliação contínua da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excelente económico gerado na economia local e ou a atracão de excelentes provenientes de outras regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região, em um modelo de desenvolvimento regional definido (Amaral, 1996:37).

O Desenvolvimento Endógeno pode ser considerado como um processo de mudança estrutural e de crescimento económico no qual a organização do sistema produtivo, a rede de relações entre actores e actividades, a dinâmica de aprendizagem e o sistema sócio cultural são determinantes no processo de mudança. O território, nesta teoria, é visto como agente de transformação social (Barquero, 2002:58).

 

a)      Percursores da Teoria do Desenvolvimento Endógeno

Dentre os principais defensores e representantes da TDE pode-se citar os autores como:

Boisier (1998), Barquero (2001), e Amaral (2002).

 

b)     Contexto de Surgimento da Teoria do Desenvolvimento Endógeno

O Desenvolvimento Endógeno suas origens na década de 1970, quando começam a se destacar as propostas de desenvolvimento da base para o topo, ou de baixo para cima, partindo do fortalecimento das potencialidades do local, como forma de transformar, fortalecer e qualificar as estruturas internas de uma região (Moraes, 2003:125).

A Teoria de Desenvolvimento Endógeno (TDE), apoia-se em factores como: capital social, capital humano, conhecimento, pesquisa e desenvolvimento, sendo que os factores são gerenciados endogenamente em cada território, e baseia-se na execução de políticas de fortalecimento e qualificação das estruturas internas dos territórios, criando condições socias e económicas para geração e atracção de novas actividades produtivas (ibid).

TDE surge como contraposição aos modelos clássicos de crescimento, que levariam inevitavelmente a um estado estacionário da economia, situação que iria contra a premissa de que, para haver desenvolvimento real, é necessário que se estabeleça uma dinâmica de formação de produtividade crescente (Araújo, 2014:106).

Farias e Araújo (2010:10), citando Amaral (1996), afirmam que a formação da TDE se deve a ruptura com a teoria tradicional de desenvolvimento, que baseia-se na função de produção Y=f (K,L), ou seja, o volume de produção (Y) é função do capital (K) e Trabalho (L). Na nova teoria os factores ante considerados exógenos na determinação do crescimento económico, tais como: capital humano, conhecimento, informação, pesquisa e desenvolvimento, passaram a ser considerados como endógenos.

 

c)      Pressuposto da Teoria do Desenvolvimento Endógeno

Segundo Julião (2001:50), a TDE é lançada numa época de clara recessão económica e contrariando os princípios anteriormente seguidos:

Advoga que não basta haver crescimento para haver desenvolvimento. Assim, o conceito de desenvolvimento torna-se mais abrangente agregado componente de natureza económica, social e cultural;

Assume que o desenvolvimento de uma região não se pode efectuar em função de outra. É a falência das teorias redistributivas. Num contexto de crise generalizada cada região deve potenciar os seus próprios recursos no sentido de encontrar uma via para o desenvolvimento.

Com base nestes dois pressupostos a actuação do Estado (Administração Central) perde importância relativa enquanto elemento catalisador e responsável principal do processo de desenvolvimento. O Estado, neste contexto, procura incentivar a capacidade de mobilização e valorização dos recursos endógenos de cada região (Ibid).

 

d)     Criticas á Teoria do Desenvolvimento Endógeno

Uma primeira critica, de caracter mais geral, diz respeito á concepção reducionista e, por que não, conformista, de pensar a existência de duas únicas opções: desenvolvimento para fora ou nos moldes “ cada um por si”. Reducionista conformista por excluir desde o principio a possibilidade de construção de alternativas ao sistema económico mundial actual vendo o como um dado, algo fixo e não passível de transformação, em lugar de vê-lo como processo histórico e, por isso mesmo, sujeito a transformação e superação (Braga, 2002:27).

A assertiva de que os actores locais, públicos e privados, são os responsáveis pelos investimentos e pelo controle dos processos de desenvolvimento, pilar sobre o qual se sustenta a defesa da condução do processo “de dentro para fora”, também é altamente questionável. Isto porque contrasta fortemente com a realidade actual de centralização e concentração económica e de poder, na qual os actores que controlam os processos de desenvolvimento são as grandes empresas transnacionais e os grupos de interesses fortemente incrustados nos governos dos países centrais (Braga, 2002:27).

 

e)      Aplicabilidade da Teoria do Desenvolvimento Endógeno para o Estudo

Segundo Araújo (2014:106), “a TDEconsidera, em linhas gerais, que desenvolvimento está relacionado á utilização, execução e valorização de recursos locais e á capacidade de controlo do processo de acumulação, possibilitando a geração de rendimentos crescentes, por meio do uso dos recursos disponíveis e da introdução de inovações, garantido criação de riqueza e melhoria do bem- estar”. Portanto, com base na perspectiva da TDE, a descentralização do FDD, contribui para o desenvolvimento dos distritos.

 

a)      Resultados Esperados

Espera-se que a pesquisa traga os seguintes resultados:

Ø  Que o estudo traga resultados satisfatórios e que se chegue a compreender como é que o fundo de desenvolvimento distrital contribui para inserção social, cultural, e económico na participação comunitária dos seus beneficiários;

 

Ø  Que o estudo sirva de uma orientação para os próximos estudantes que pretendem pesquisar acerca do impacto dos projectos financiados pelo FDD.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referencias Bibliográficas

 

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[1] Segundo o Decreto nº90/2009, de 15 de Dezembro, CCD é o órgão deliberativo do FDD, tomam decisão sobre os pedidos de empréstimos submetidos, verifica a consistência dos projectos com os planos Estratégicos de Desenvolvimento do Distrito e faz o seu acompanhamento permanente.

[2] Conselho de Ministro (2009) -Decreto nº90/2009, de 15 de Dezembro (BR2009), que cria o FDD, Publicação Oficial da Republica de Moçambique

 

[3] Plano Quinquenal do Governo é usado para nortear o funcionamento dos Órgãos Locais do Estado no quadro da descentralização administrativa.

[4]OE é o documento onde são previstas e computadas as receitas e as despesas anuais, completamente autorizadas.

 

[5] GIL,A,C. (1999), Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. ATLASS S.A São Paulo